A construção civil é um setor que demanda precisão e controle em todas as etapas de um projeto. A área de orçamento de obras é umas das mais afetadas positiva ou negativamente pelas decisões tomadas nas etapas de definição do empreendimento. Projetos mal planejados ou mal geridos, e com baixo nível de controle, podem resultar em desperdícios, atrasos, e até mesmo na inviabilização da obra devido ao custo elevado.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) fechou 2022 com alta de 10,9%, sendo a segunda maior taxa desde 2014. Esses números ilustram como os custos na construção podem facilmente fugir do controle, ressaltando a importância de uma gestão de projetos eficaz para evitar sobrecargas financeiras.
O orçamento de obras é que irá documentar a cotação dos insumos. Por exemplo, quais serão os materiais necessários, de qual tipo e quantidade, a mão de obra e o número de horas necessário de profissionais e equipamentos. São os custos diretos que irão garantir a edificação. Além disso, um orçamento exige uma avaliação de condicionantes, como o tipo de solo no qual se dará a construção, como são as vias de acesso até a obra, qual será o tipo de obra, entre outros. Neste caso, entram ainda os custos indiretos, como instalações provisórias dentro da estrutura da obra, depósitos e refeitórios para os trabalhadores.
Para garantir que o orçamento de obras se torne um aliado e não um fator que pode inviabilizar a construção, um dos aspectos fundamentais é desenvolver uma boa gestão de projetos. Anteriormente, falamos sobre as tendências que podem contribuir com o planejamento de obras e, entre elas, destacamos algumas funcionalidades para aumentar a produtividade e garantir melhores resultados. Novamente, observa-se a necessidade da adoção de ferramentas específicas para atender a gestão dos projetos e evitar discrepâncias no orçamento de obras. Caso contrário, o preço a se pagar pode ser muito alto.
Fatores distintos contribuem para uma má gestão, incluindo não somente o papel do gerente de projetos, mas também os recursos disponíveis para administrar as diversas etapas da construção e a comunicação entre equipes. O incorreto gerenciamento em algum destes pontos pode comprometer a obra em diferentes proporções e impactar diferentes setores.
A má gestão de projetos é um dos principais fatores que podem comprometer o orçamento de obras. Diversos fatores contribuem para essa má gestão, incluindo a/o:
A seguir, detalharemos como cada um desses fatores pode impactar negativamente o orçamento.
Um dos maiores problemas na gestão de obras é a falta de controle das tarefas e atividades. Sem um cronograma claro e acessível a todos os envolvidos, surgem atrasos ou retrabalhos que trazem custos extras e comprometem a qualidade dos modelos entregues, afetando diretamente o orçamento final da obra.
Imagine um cenário onde uma equipe não tem clareza sobre o prazo de conclusão de uma etapa específica do projeto. Isso pode levar a uma alocação inadequada de recursos, resultando em sobrecarga de trabalho e, em última instância, em atrasos que exigem horas extras ou contratações emergenciais para manter o cronograma.
Para evitar esses problemas, é crucial que o gerente de projetos desenvolva e mantenha um cronograma detalhado e atualizado regularmente. As tarefas e priorizações deve ser acessíveis a todos os membros da equipe e permitir o acompanhamento em tempo real do progresso das atividades.
Ferramentas de gestão de projetos, como softwares específicos para o fluxo de trabalho BIM, podem ajudar a manter o controle e a visibilidade das tarefas, permitindo que o gerente de projetos identifique rapidamente quaisquer desvios e tome medidas corretivas antes que os problemas se tornem críticos.
Outro aspecto crítico da má gestão de projetos é a falta de controle nas revisões de documentos e desenhos técnicos do projeto. No ambiente de construção, as revisões de documentos são frequentes, e a utilização inadequada de modelos e documentos desatualizados pode levar a erros graves na gestão de custos.
Por exemplo, se uma equipe estiver utilizando o e-mail para enviar revisões de documentos, é possível que um arquivo importante se perca no meio de uma troca de mensagens. Nem todos os servidores de e-mail possuem capacidade de armazenamento suficiente, e arquivos grandes podem não chegar ao destinatário.
Essa situação pode resultar em um profissional trabalhando com uma versão desatualizada de um desenho ou especificação, que pode levar a erros na execução da obra. Se esses erros só forem descobertos no final, durante a entrega da obra, os custos para corrigir o problema podem ser significativos, comprometendo o orçamento original e, em alguns casos, até mesmo a margem de lucro da obra.
Por esse motivos, para que o BIM funcione de maneira eficaz, é necessário organizar a estrutura dos dados. Isso inclui a padronização dos formatos de arquivos, padrões de nomenclaturas dos arquivos, a definição de protocolos para o armazenamento e compartilhamento de informações. A integridade e a interoperabilidade dos dados são cruciais para que os modelos BIM possam ser utilizados em todas as etapas do ciclo de vida do projeto e na orçamentação.
O uso de plataformas de gestão de documentos específicas para a construção civil é o tipo de recurso que pode contribuir para evitar problemas. Afinal, essas plataformas permitem que todas as revisões sejam armazenadas e organizadas em um único local, garantindo que todos os membros da equipe tenham acesso às versões mais recentes dos documentos.
Além disso, essas ferramentas geralmente incluem funcionalidades de controle de versão, o que ajuda a evitar que versões desatualizadas sejam utilizadas inadvertidamente.
O gerenciamento inadequado do acesso às informações do projeto também pode ser um fator determinante para o fracasso do orçamento de obras. Existem dois cenários principais onde isso pode ocorrer: quando há acesso irrestrito às informações e quando há falta de acesso para quem realmente precisa.
No primeiro cenário, ao fornecer acesso irrestrito a todos os profissionais, com possibilidade de alterar e remover informações, corre-se o risco de perder a organização e a integridade dos dados. Isso pode resultar em alterações não autorizadas, perda de informações críticas e até mesmo em falhas de segurança que podem comprometer o andamento do projeto e aumentar a chance de erros na estimativa de custos.
Por outro lado, a falta de acesso às informações por parte de profissionais que realmente precisam delas pode causar atrasos significativos. Imagine que um engenheiro responsável pela obra não consiga acessar um documento necessário para a continuidade de seu trabalho. Isso pode causar atrasos, resultando em custos adicionais com tempo ocioso e possíveis penalidades contratuais.
A solução para esses problemas é centralizar todas as informações do projeto em uma plataforma segura e bem gerida. O administrador do projeto deve organizar as informações por disciplina e fornecer acessos de acordo com as necessidades de cada membro da equipe. Dessa forma, garante-se que as informações estejam disponíveis para quem precisa, sem comprometer a segurança ou a organização da gestão de projeto.
O orçamento de obras é mais do que uma mera planilha de custos. É um instrumento vital para a viabilidade de um projeto. Ele detalha os custos diretos, como materiais, mão de obra e horas de trabalho, e os custos indiretos, como infraestrutura temporária e logística.
Um orçamento bem elaborado deve incluir uma análise minuciosa dos fatores condicionantes, como o tipo de solo, as vias de acesso e a complexidade técnica da obra. Ignorar ou subestimar qualquer um desses aspectos pode levar a desvios financeiros consideráveis.
A partir do modelo BIM, é possível realizar orçamentos mais precisos e detalhados, já que contém todas as informações necessárias para calcular quantidades de materiais, custos de mão de obra e outros aspectos financeiros do projeto. Esse processo automatizado e baseado em dados já organizados nas etapas anteriores contribui para uma gestão financeira mais transparente e eficiente.
Se a má gestão pode impactar negativamente o orçamento de obras, uma gestão de projetos bem estruturada, apoiada por ferramentas específicas e de qualidade, gera economia significativa.
Assim, é recomendado que o gerente de projetos, em conjunto com o orçamentista, faça uma análise detalhada de estruturação da EAP e das informações contidas no modelo para que seja feito um planejamento de parâmetros que devem ser adequados ou adicionados ao modelo. É importante reforçar que essa etapa é fundamental para que os processos de orçamento e planejamento estejam compatíveis e vinculados ao modelo da construção virtual, resultando em maior precisão além da otimização do tempo e recursos no caso de revisões de projeto e monitoramento da obra.
Para implementar boas práticas de gestão de projetos na construção civil, é essencial investir em treinamento e qualificação dos gestores, além de adotar ferramentas de gestão que permitam um controle mais rigoroso de todas as etapas do projeto.
A seguir, detalharemos algumas das boas práticas que podem impactar positivamente o orçamento.
A criação de padrões de modelagem BIM é essencial para garantir a consistência e a qualidade dos modelos produzidos.
As definições incluem diretrizes sobre a organização do modelo, a definição de níveis de detalhe, nível de desenvolvimento (LOD), criação de templates contendo as configurações e bibliotecas para cada tipologia de projeto. Com padrões bem definidos, é possível assegurar que todos os projetos sejam desenvolvidos de acordo com as melhores práticas e com uma base sólida para a colaboração entre equipes.
Sendo assim, certifique-se sempre que as propriedades de cada material ou serviço estão definidas adequadamente e que estas retratem a realidade que será construída. Dessa forma, é possível garantir a qualidade das informações geradas no modelo IFC.
Por exemplo, ao modelar uma parede é importante que sejam definidas suas propriedades, como as suas camadas constituintes, o material utilizado em cada camada, a espessura de cada uma delas entre outras, com informações fiéis à realidade.
Padrões construtivos são diretrizes técnicas que estabelecem procedimentos, materiais, métodos de execução e critérios de qualidade a serem seguidos em todas as etapas da construção. Estes padrões abrangem desde a escolha de materiais e fornecedores até técnicas de execução, segurança e acabamentos.
Definir padrões construtivos é uma prática essencial para qualquer construtora que busca garantir a eficiência, a qualidade e a consistência de seus projetos. Assim, o gerente de projetos deve sempre estar atento e se mantar a par das definições ou mudança de padrões da construtora para garantir que os custos se mantenham dentro do orçamento disponível.
Uma parte essencial do orçamento é a cotação precisa dos insumos. Isso inclui a lista de materiais necessários e o tipo, a quantidade e a qualidade desses materiais. A escolha errada ou a subestimação na quantidade pode gerar desperdício ou a necessidade de compras emergenciais, que geralmente são mais caras.
Além disso, o planejamento da mão de obra e do tempo necessário para cada etapa da obra deve ser meticuloso. Falhas nesse planejamento podem resultar em custos adicionais com horas extras ou a necessidade de contratar mais pessoal do que o inicialmente previsto.
Independente da etapa de desenvolvimento do empreendimento, a comunicação é um dos pilares de uma gestão de projetos eficaz. Manter uma comunicação clara, objetiva e contínua entre todas as partes envolvidas no projeto é essencial para evitar mal-entendidos e garantir que todos estejam alinhados com os objetivos e cronogramas.
Ferramentas de comunicação integradas à gestão de projetos podem ajudar a centralizar as informações e garantir que todos os envolvidos estejam sempre atualizados sobre o andamento da obra.
A má gestão ou falta de comunicação com a equipe de gestão de custos no momento correto pode levar a desvios significativos no orçamento, comprometer a viabilidade do projeto e resultar em prejuízos financeiros.
Ferramentas de gestão de projetos, como softwares para planejamento e controle de obras, são essenciais para manter o cronograma da obra em dia e para garantir que todos os envolvidos tenham acesso às informações mais recentes.
Ferramentas de gerenciamento do fluxo de trabalho, de gestão de documentos e de orçamentação em BIM são essenciais para tornar mais fluida a aplicação das mudanças ao longo do desenvolvimento dos projetos e reduzir desperdícios, além dos custos de execução da obra.
Essas ferramentas permitem que o gerente de projetos acompanhe o progresso das atividades em tempo real, identifique potenciais atrasos e tome medidas corretivas antes que os problemas se tornem críticos.
Além do uso de ferramentas adequadas, o treinamento e a capacitação dos profissionais envolvidos no projeto são fundamentais para uma gestão eficiente. Gestores de projetos, engenheiros e outros profissionais devem estar atualizados sobre as melhores práticas de gestão de projetos em BIM e sobre as funcionalidades das ferramentas de gestão disponíveis.
Investir em treinamento não só melhora a eficiência da gestão, mas também aumenta a capacidade da equipe de identificar e solucionar problemas antes que eles afetem prazos e orçamento.
Para continuar aprendendo sobre boas práticas em gestão de projetos na construção civil e como elas podem ajudar a economizar tempo e recursos, acompanhe nosso blog. Aproveite para saber mais sobre o Bim 5D que é uma nova forma de realizar o orçamento da sua obra.