A precificação de projetos de engenharia civil é um tema de extrema relevância para os profissionais que atuam na área. Com um mercado em constante valorização, entender como precificar os projetos é essencial para se manter competitivo e até mesmo orientar a tomada de decisão dos clientes.
Pensando nisso, a AltoQi realiza desde 2020 uma pesquisa com projetistas de diversas regiões do país sobre as tendências de preços no setor de engenharia. A pesquisa permite uma análise comparativa dos valores cobrados por diferentes tipos de serviços e projetos, além de um panorama sobre o uso do Building Information Modeling (BIM) em projetos.
Os dados foram levantados entre os meses de setembro e outubro de 2024, com a participação de 1.015 projetistas e colabora para compreender o perfil profissional, a estratégia de preços e os níveis de experiência com BIM de profissionais das regiões Nordeste, Norte, Centroeste, Sul e Sudeste do Brasil.
Quer saber quais foram os resultados? Apresentamos um resumo dos dados. A pesquisa completa está disponível para acesso gratuito.
Perfil dos projetistas segundo a Pesquisa de Precificação de Projetos
Ser engenheiro projetista é uma profissão bastante diversificada. Principalmente porque possibilita atuar com diferentes áreas da engenharia e interagir com uma diversidade de profissionais.
Nesse sentido, a Pesquisa de Precificação de Projetos confirma o perfil variado dos engenheiros e revela que a maior parte dos respondentes é projetista autônomo com idade entre 25 e 34 anos.
Enquanto 52% são profissionais liberais, 29% atuam em escritórios de projetos de engenharia, 4% trabalham em construtoras ou incorporadoras e outros 4% estão em órgãos públicos. Os estudantes de graduação são 3% do universo de profissionais que responderam à pesquisa.
“Outro dado importante é a idade. O mercado de projetos tem projetistas entre 25 e 34 anos, quase 50% do grupo de respondentes da pesquisa. São, na maioria, jovens profissionais”, afirma Luiz Felippe de Souza, Product Marketing da AltoQi e integrante da equipe técnica da Pesquisa de Precificação.
O segundo maior grupo de engenheiros atuantes no país é o com idade entre 35 e 44 anos, que representam 23% do total. Na sequência, estão os profissionais na faixa dos 45 a 54 anos. A quantidade de profissionais com menos de 24 anos destaca-se em relação aos profissionais com 55 a 64 anos. Os mais jovens representam 7,2% enquanto os de maior idade são 6,2% do total.
Dentre os 1.015 projetistas, 74,7% atuam em mais de uma disciplina de projetos. As principais são projetos elétricos e hidrossanitários. A outra parcela (25,3%) é especializada em uma disciplina – predominantemente em projetos estruturais.
Segundo Luiz, o mercado reflete as exigências regulatórias para os projetos de engenharia civil. “A demanda é maior por projeto elétrico, estrutural e hidrossanitário por causa das normas”, afirma.
Talvez por isso, esses sejam os projetos que apresentam uma dinâmica de aumento nos valores médios, em comparação com os coletados em 2023, conforme revelam os resultados do levantamento 2024.
Quanto custa um projeto de engenharia
Os valores apresentados na Pesquisa de Precificação de Projetos baseiam-se na análise de mais de sete mil orçamentos enviados pelos participantes, relacionados a três modalidades de projetos:
Residencial unifamiliar de alto padrão, com área total de 1.145 metros quadrados (m2), água quente e fria por aquecedor a gás, lajes nervuradas e estrutura de concreto armado.
Residencial predial, com área total de 3.268 m2, água quente e fria por aquecedor a gás, sendo a medição individualizada e o tratamento de esgoto por fossa séptica com filtro anaeróbico e sumidouro. A estrutura é de concreto armado.
Edificação comercial, com área total de 272 m2 , água fria, lajes nervuradas e estrutura de concreto armado.
A pesquisa consolida os valores médios de cada tipo de empreendimento pela disciplina do projeto: estrutural, hidrossanitário, elétrico e outros. Os resultados mostram que a edificação comercial é a com maior valor relativo por m2.
A precificação por m2 é o método preferencial para a composição dos valores. Mas não é a única variável considerada no preço final. Há fatores específicos que aumentam a complexidade dos projetos e, por consequência, impactam no preço praticado. A presença de subsolos e de piscinas são considerados os dois elementos mais desafiadores pelos participantes da Pesquisa de Precificação de Projetos com influência nos valores finais.
É por isso que, para Luiz, o valor do m2 não pode ser o fator fundamental da precificação. “A questão da complexidade é um fator que deve ser fundamentalmente analisada para a precificação. É preciso ter atenção a esses pontos. Caso contrário, há retrabalho”, alerta.
Em termos gerais, o m2 do projeto estrutural de uma casa custa R$ 19,30 no Brasil; de um prédio, é R$ 16,60; e de um comércio é R$ 32,70. Em todas as tipologias de projeto, a região com o m2 mais caro é a Sudeste. O menor valor para casa é praticado pela região Norte; para prédio e comércio o custo é menor na região Centroeste.
“Com essas informações, os projetistas conseguem atuar em um mercado praticamente sem fronteiras, além de ter insights relacionados, por exemplo, a busca de clientes em uma região onde consiga ser mais competitivo”, diz Luiz Felippe de Souza, Product Marketing da AltoQi.
Em comparação, os projetos hidrossanitários e elétricos apresentam valores similares para o m2 na média nacional. O m2 do projeto hidrossanitário de uma casa custa R$ 7,90; o de um prédio é R$ 6,20; e o de um comércio é R$ 13,40. Para projetar a parte elétrica de uma casa, o valor médio do m2 no Brasil é R$ 7,70; de um prédio é R$ 6; e de um comércio é R$ 15,60.
A dúvida dos especialistas, levantada no evento gratuito Precificação de projetos: resultados e estratégias para valorizar seu trabalho, é se o fato do projeto ser em BIM ou não impacta na precificação. A discussão passa primeiro pelo entendimento do uso da metodologia em projetos.
Experiência e desafios do uso do BIM em projetos
O BIM é usado nos projetos por 68,4% dos participantes da Pesquisa de Precificação 2024. Um percentual 17,6% maior em comparação com a pesquisa de 2023 e 44,6% superior em relação ao levantamento de 2021.
“É um aumento consistente na adoção do BIM para a realização de projetos. A AltoQi investe em BIM desde quando o assunto não era tão preponderante no mercado e, hoje, vemos pela pesquisa o amadurecimento acentuado do mercado. O BIM deixa de ser um adicional para ser algo fundamental nas entregas de projetos", observa Luiz.
A maior parte dos profissionais avalia que seus times estão nos primeiros passos da adoção da metodologia e que sua organização requer capacitação relacionada a BIM. “Os números mostram a jornada que precisa ser feita e a capacitação é onde tudo começa”, destaca Francisco Gonçalves Jr., também Product Marketing da AltoQi e integrante da equipe técnica da Pesquisa de Precificação de Projetos 2024.
Luiz acrescenta que o uso maduro do BIM torna possível expandir a metodologia para além da fase de projeto. “A aplicação na orçamentação, na execução, na colaboração é onde se percebe o retorno sobre o investimento em BIM”, afirma.
Mas será que o nível de experiência em BIM também deve ser considerado no momento de definir o valor de um projeto de engenharia? O debate dos especialistas no evento gratuito Precificação de projetos levanta alguns pontos.
BIM deve ou não compor a precificação de projetos de engenharia?
Na opinião do engenheiro civil Diego Eduardo Cesar, especialista em estruturas de concreto e fundações, convidado do evento de Precificação, incluir o conhecimento em BIM no valor do projeto “é correto e faz mais sentido”, pois a entrega de algo mais completo ao cliente “demanda mais precisão do profissional”. “Partindo do princípio de que estou entregando algo com valor agregado e informações precisas, isso traz mais responsabilidade”, acrescenta.
O BIM não muda somente a precificação, mas também modifica o modelo de contratação e a maneira de se comunicar com o cliente, no entendimento de Anamelia Adriano, sócia proprietária da On.We e especialista em instalações hidráulicas que também esteve no evento de Precificação de Projetos.
O contraponto de Anamelia é que o cliente não sabe a diferença de um projeto feito ou não em BIM e isso deve ser explicado corretamente para ele. “É preciso mostrar para o cliente a economia que o BIM representa para a obra dele, como aumenta a chance de entregar a obra no prazo planejado e oferece mais controle para saber se a obra está sendo feita da forma correta”, sugere a especialista.
Em resumo, “o BIM dá o poder de decisão para a pessoa”, completa o engenheiro eletricista Luciano Henrique Barbosa Kuhnen, outro convidado do evento de Precificação. “Esse poder de decisão dá valor ao projeto. Um projeto em CAD gera um gasto muito maior na obra”, compara.
O problema é que a defasagem da graduação de engenharia civil deixa uma lacuna na formação dos profissionais da área. “Como engenheiros, não somos ensinados a precificar projetos na universidade. Assim, quem entra no mercado, paga para trabalhar nos primeiros projetos que entrega ou perde concorrência por causa do preço”, recorda Luiz Felippe de Souza, Product Marketing da AltoQi.
A dica do especialista para evitar perdas é estar sempre atento às tendências do mercado e a estudos como a Pesquisa de Precificação. Além dessa recomendação, Anamelia, Diego, Luciano e Francisco têm outras para compartilhar.
7 dicas fundamentais para a precificação de projetos de engenharia civil
1. Entender o negócio
Entender o negócio é muito mais que simplesmente saber projetar uma estrutura, instalações hidrossanitárias, elétricas e outras. Significa fazer um diagnóstico da própria empresa e avaliar, além da capacitação técnica, quais são os custos diretos, os riscos envolvidos, as despesas indiretas. Ainda, dominar os conceitos de administração, marketing e composição de preços.
Afinal, é a compreensão do projetista sobre o negócio que permite uma precificação de projetos mais refinada e competitiva. “Não há como definir o valor sem entender se aquele preço faz sentido para a realidade na qual o projetista está inserido”, alerta Luiz Felippe de Souza.
2. Analisar custo e receita
Ficar atento aos custos e ao que entra de receita é a matemática básica do empreendedor.
O custo deve ser o primeiro fator a ser considerado na precificação, antes mesmo da análise do valor por m2 ou do valor da hora de trabalho.
O raciocínio é simples: profissionais autônomos que trabalham em casa detêm uma estrutura de custos diferente daquela necessária a profissionais responsáveis por manter um escritório de projetos.
Geralmente, quem é autônomo tem um custo de operação menor em comparação com um escritório, onde os custos tendem a ser maiores.
3. Ter a prática da revisão
Uma dúvida frequente entre os engenheiros é quanto cobrar pelos projetos ou se está cobrando o valor certo pelas entregas realizadas.
Uma forma de ter essa resposta é fazer a revisão do projeto depois dele ser entregue ao cliente. Assim, é possível analisar com precisão se o tempo investido no projeto está de acordo com o preço praticado.
Com isso, é mais fácil identificar onde pode estar o problema do fluxo de caixa. “Às vezes, os projetistas perdem dinheiro sem saber onde está o problema das perdas”, avisa Luiz Felippe de Souza.
4. Considerar a complexidade
Assim como a Pesquisa de Precificação de Projetos 2024 mostrou, fatores específicos aumentam a complexidade do projeto e devem ser considerados no valor final dos serviços.
“Quando faço a precificação, o preço da metragem quadrada é um fator norteador, mas não o predominante. Os três fatores: metragem quadrada, análise de pontos críticos e horas trabalhadas representam mais fielmente a precificação de um projeto”, pondera Diego Eduardo Cesar, especialista em estruturas de concreto e fundações.
Contudo, como saber o nível de complexidade dos projetos, os pontos críticos e os grandes desafios que precisam de solução estrutural e/ou de instalações? “A partir da análise da arquitetura antes de fazer a proposta”, responde Diego.
5. Prever a refação
O que também impacta diretamente na precificação do projeto é a refação, ou seja, o retrabalho para ajusta os projetos de engenharia civil.
“Refazer tem um gasto de horas bem elevado. Por isso, a refação de projetos deve contar na precificação", lembra Francisco Gonçalves Jr., também Product Marketing da AltoQi.
6. Definir processos
Definir processos é fundamental para a saúde do negócio. Muitos projetistas que atuam sem dar atenção para esse tópico se dão conta, de repente, de que o negócio está acontecendo com algumas falhas. Por exemplo, sem a composição de custos e estruturação da entrega de cada fase do projeto.
“A falta de processo é a mãe da decepção”, comenta Luiz. Em contrapartida, reforça que “os processos são a garantia de que o negócio irá funcionar em qualquer condição”.
Anamelia Adriano, sócia proprietária da On.We, vai além e acrescenta que não tem como estar no mundo BIM sem processos definidos.
7. Acompanhar tendências
As tendências de mercado afetam a dinâmica dos negócios. Esse é um dos motivos para estar sempre atento ao que acontece na área da engenharia civil.
Entender as tendências também contribui para a adequação dos próprios processos e para se tornar cada vez mais relevante e competitivo.
A Pesquisa de Precificação de Projetos 2024 é um exemplo de tendência de mercado, ao revelar que a precificação por m2 é a principal metodologia de preços utilizada pelos projetistas.
Inclusive, com os resultados da pesquisa foi criada a Calculadora de Precificação de Projetos de Engenharia, uma ferramenta para ajudar engenheiros recém-formados e projetistas já experientes a estabelecer preços para os projetos.
Explore os recursos para simular o preço do seu serviço em oito diferentes disciplinas, considerando um dos três tipos de edificação - casa, prédio ou comércio - e defina valores ainda mais rentáveis e competitivos para o seu negócio.