Planejamento

O que improvisação em canteiro de obras e a indústria automobilística tem em comum?

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No artigo mais recente que escrevi, prometi falar sobre os custos de improvisação no canteiro de obras. Para ilustrar esse assunto, gosto de comparar a construção civil com um dos seus parentes mais velhos e bem sucedidos na economia brasileira: a indústria automobilística. Acredito que esse seja um bom exemplo de parâmetro ou objetivo a atingir.

Percebe-se a semelhança apenas comparando o setor produtivo dessas duas indústrias, uma vez que ambas operam com milhares de insumos que devem se encaixar perfeitamente e proporcionar um funcionamento impecável do seu produto final, seja ele um automóvel ou um complexo comercial, por exemplo.

No entanto, embora devesse ser igualmente inadmissível, comercializar edificações sem um pleno funcionamento ou com seus encaixes sem uma perfeita sinergia ainda é mais aceitável que adquirir um carro nas mesmas condições.

Infelizmente, este cenário é um reflexo da nossa atuação como projetistas, que permitimos que os projetos cheguem ao canteiro obras com pouca ou nenhuma compatibilidades entre si. Isto faz com que as interferências acabem sendo corrigidas na pré-execução ou frequentemente, no próprio canteiro de obras.

Contudo, em função das outras atividades desenvolvidas pelo pessoal de obra, acaba-se destinando um tempo insuficiente para a resolução dos problemas citados, ocasionando em uma execução da obra que resolve apenas parte dos problemas ou com soluções paliativas, improvisos e adaptações, como vemos nas imagens abaixo:

Uma foto de uma câmera de segurança montada no teto, direcionada para a área que está sendo monitorada

Figura 1: Improvisações e soluções corretivas aplicadas pela falta de compatibilização prévia.

O ideal é que assim como os projetos automobilísticos, as edificações tenham um processo de projeto com início, meio e fim bem definidos, para então serem disponibilizados para a obra. Porém, o que ocorre é uma série de mudanças durante a execução no próprio canteiro de obras, desde a natureza do escopo da edificação até a utilização de sistemas complementares alternativos e outras mudanças não previstas. Nenhum veículo tem sua estética, sistema elétrico ou mecânico alterados quando já se encontra na linha de montagem, até onde sabemos.

Acredito que este seja a maior das diferenças entre esses dois sistemas produtivos complexos: o projeto antecipado, fechado, concluído e inalterado até a industrialização e entrega do produto final.

Não pretendo entrar no mérito da necessidade das alterações projetuais, pois a ocorrência destas são inerentes ao mercado, seja por necessidades comerciais ou imprevistos com o solo, problemas financeiros, dentre outros. Todavia, reforço a necessidade e benefícios do projeto antecipado e finalizado, antes da do início das obras.

O ideal é termos todos os projetos em suas versões executivas e compatibilizadas. Resumidamente, o fluxo ideal do projeto seria:

1. Estudo preliminar
2. Anteprojeto
3. Projeto Executivo com os detalhamentos incluídos

Projeto preliminar e anteprojeto

Essas fases deveriam abranger a compatibilização de todos os projetos utilizando uma ferramenta adequada, para otimização, maior aproveitamento e qualidade final do projeto. Entrariam então as modelagens e compatibilização em BIM, que nada mais é que a modelagem das informações da construção em ambiente virtual.

Com esse procedimento, as incompatibilidades seriam retiradas ou diminuídas em um ambiente tridimensional, onde há maior chance de êxito para agregar ainda mais qualidade ao produto final. Ressalvo que essa é uma das diversas possibilidades do uso de ferramentas para gerenciamento de projeto, sobre a qual poderemos versar melhor em outra ocasião.

Uma vez amparados pelo auxílio do BIM, os projetos “deverão” adentrar pelos portões do canteiro de obras já devidamente compatibilizados, ajustados e em suas versões executivas, contendo, inclusive seus detalhamentos e instruções de montagem.

Assim teríamos uma aproximação da indústria da construção civil com a indústria de veículos. É exatamente essa a diretriz. Atingir uma qualidade maior em nosso produto final, aquele que, efetivamente será entregue aos nossos clientes.

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