Hidrossanitário

Projeto de reaproveitamento de água: tipos de águas e usos

Tempo de leitura: 7 min.

Abordaremos neste post os tipos de água a serem consideradas no projeto de reaproveitamento de água de uma edificação e as variáveis necessárias para seguir as boas práticas de um sistema eficaz. Importante ressaltar que as variáveis devem ser aplicadas em conjunto para evitar a criação de um sistema vulnerável e deficiente.

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A figura abaixo resume o fluxo de informações que devemos levar em conta em um projeto de reaproveitamento de água:

Diagrama de fluxo que ilustra o conceito de reúso de água. Tem um retângulo e seis setas com retângulos menores ao redor dele

Para pensar:

  • Um banho de 15 minutos gasta até 135 litros de água;
  • O simples fato de escovar os dentes pode gastar 6 litros de água;
  • Lavar o rosto consome até 2,5 litros de água;
  • Você pode gastar 12 litros de água ao se barbear por 5 minutos;
  • Gasta-se 280 litros de água em 15 minutos de lavação de roupas no tanque;
  • 1 ciclo de lavadora de roupas gasta em média 135 litros de água.

Primeiramente, é essencial conhecer os tipos de água que podem abastecer o projeto de reaproveitamento de água. Vamos focar especialmente nas águas pluviais (mais aceitas pelos usuários) e nas águas cinzas. Confira a vantagem de cada uma, aplicações e recomendações técnicas pertinentes ao trabalho do projetista.

1. Águas pluviais: resultantes da chuva que escoa sobre os telhados, coberturas, terraços, varandas.

Esse tipo é o mais recomendado para o projeto de reaproveitamento de água, devido as suas características e por ser culturalmente mais aceito pelos usuários. A NBR 15527 já normatizou o uso e aproveitamento das águas pluviais, dando aos profissionais da área o respaldo técnico para a concepção de um sistema mais eficaz de reaproveitamento.

Aspectos qualitativos

As qualidades físicas, químicas e microbiológicas, além dos aspectos estéticos, podem limitar a aceitabilidade do recurso para reuso de água em edificações. Para usos menos nobres, como a irrigação urbana ou para a descarga de vasos sanitários, no caso das edificações, a aparência da água não deve ser diferente daquela apresentada pela água potável, ou seja, deve ser clara, sem cor e sem odor.

Se o uso da água da chuva se destina à recreação, a água recuperada não deve estimular o crescimento de algas. A água deve ser percebida como segura e aceitável para o uso pretendido e os órgãos de controle devem divulgar tal garantia. Esta diretriz pode ocasionar a imposição de limites conservadores para a qualidade da água.

É importante lembrar que a Organização Mundial da Saúde define os critérios de saúde para o reuso potável: não deve existir nenhum coliforme fecal em 100ml, nenhuma partícula virótica em 1000ml ou nenhum efeito tóxico para seres humanos, entre outros critérios de potabilidade da água.

Esta água deve ser, de forma imprescindível, clorada para seu reuso em edificações, quando ele se destina a lavagem de pisos, lavagem de carros, uso em descargas de vasos sanitários, ou seja, em todos os processos em que o reuso tenha contato humano. Isto porque esta água contém inúmeros agentes infectocontagiosos e coliformes fecais, provindos dos telhados, onde pássaros, ratos, insetos dos mais variados defecam.

Vantagens de reutilização da água pluvial

– Reduz o consumo de água da rede pública e o custo de fornecimento da mesma;

– Evita o consumo de água potável onde o uso não é imprescindível, como na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos, etc.;

– Os investimentos são de baixo custo e a obra é rápida;

– Manutenção e operação mínimas para adotar a captação de água pluvial;

– O retorno do investimento ocorre a partir de dois anos e meio;

– Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que seria drenada para galerias e rios;

– Encoraja a conservação da água, a autossuficiência e uma postura ativa perante os problemas ambientais das cidades.

2. Águas cinzas: efluente doméstico que não possui contribuição da bacia sanitária e pia de cozinha.

As águas cinzas são geradas a partir de processos domésticos, como lavar louça e roupa e tomar banho. Assim, esse tipo de água corresponde entre 50 a 80% de esgoto residencial. Importante não confundir com as águas negras, que são residuais de vasos sanitários.

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O projeto de reaproveitamento de água cinza acarreta benefícios ambientais e financeiros, pois substitui volumes de água potável onde esta não é necessária. No entanto, é fundamental que as águas cinzas atendam a alguns requisitos básicos de qualidade. Isso porque, quando estão fora dos padrões desejados, as águas tratadas podem causar problemas de odor e de saúde pública, comprometendo todo um conceito de reuso.

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Aspectos qualitativos

A composição das águas cinzas têm influência direta com as características regionais e culturais dos usuários, tais como: localidade e ocupação, faixa etária dos usuários, estilo de vida, classe social, uso de produtos de limpeza, medicamentos e cosméticos, horário de uso da água, etc.

Esse tipo de água possui sólidos suspensos, compostos nitrogenados, fósforos totais, compostos de enxofre, DBO, DQO e coliformes fecais para serem considerados em seu tratamento de remoção.

Quanto aos aspectos físicos, turbidez, cor, temperatura e concentração de sólidos dissolvidos são os mais importantes a serem considerados.

  • A temperatura contribui para o desenvolvimento de microrganismos, enquanto a turbidez e a concentração de sólidos dão pautas importantes para possíveis entupimentos nas tubulações que transportam os efluentes.
  • O costume de urinar durante o banho impacta em níveis mais altos de compostos nitrogenados no efluente a ser considerado no tratamento. Quanto aos compostos de enxofre, cabe destacar a ocorrência de gás sulfídrico, gerador de maus odores.
  • A alcalinidade e a dureza podem, assim como a turbidez e a concentração de sólidos dissolvidos, dar indicações sobre possíveis problemas com entupimentos das tubulações. Óleos e gorduras são importantes, podendo ser parâmetro crítico de controle do sistema de tratamento.
  • As águas cinzas normalmente contêm organismos patogênicos, dentre eles, bactérias, vírus e parasitas, em concentrações menos elevadas do que em esgotos domésticos convencionais, mas elevadas o suficiente para causar riscos à saúde.

A NBR 13.969/97 traz recomendações qualitativas para o reuso de águas cinzas:

Tabela com as recomendações qualitativas para o reúso de água cinza segundo a NBR 13.969

Vantagens de reuso

Criar um projeto de reaproveitamento de água cinza resulta em economia de água potável, economia de energia elétrica e menor produção de esgoto sanitário nas edificações. Em uma visão macro, resulta em preservação dos mananciais, por diminuir a quantidade de água captada e por reduzir o lançamento de esgoto pelas áreas urbanas, além de reduzir o consumo de energia elétrica no tratamento da água e do esgoto (GONÇALVES et al, 2006).

3. Águas de drenagem de fundação (lençol freático): água resultante do processo de drenagem feito na etapa de fundação da obra para rebaixamento do lençol freático através de poço de bombeamento.

Essas águas ainda são pouco utilizadas no projeto de reaproveitamento de água, principalmente porque a maioria dos projetistas não dão atenção ao seu potencial de utilização. Quando o lençol freático é aflorante, ou em edificações que fazem uso de subsolo de garagens, a execução das fundações prediais passam necessariamente pelo rebaixamento do lençol freático. Este rebaixamento pode ser feito com um olhar voltado para o reaproveitamento destas águas provindas do lençol freático.

Neste caso, o uso de um poço drenante, que seria provisório para a etapa de fundação da obra, passa a ser concebido para atuar de forma permanente na edificação, recalcando futuramente estas águas também para o reaproveitamento. A água pode ser usada em vasos sanitários, regas de jardins e lavagem de pisos. No entanto, vale a pena um estudo qualitativo para definir o seu reaproveitamento, bem como uma análise de interferência no lençol freático sobre fundações de prédios vizinhos. Isso evita o risco de desmoronamentos.

Mas existe um potencial bastante promissor e permanente neste tipo de reaproveitamento. Em grandes centros urbanos, onde as edificações possuem subsolo de vários pavimentos e o volume de água do lençol freático é grande, este reaproveitamento já está sendo recomendado de forma vantajosa.

Aspectos qualitativos

A qualidade dependerá do tipo de lençol freático captado. Pode ser mais frequente a presença de cor, principalmente se for retirada de solos argilosos. Assim, um tratamento de remoção da cor deve ser considerado, sempre e quando seus usuários objetem o seu uso quanto a esta qualidade. Se o lençol freático for contaminado, também demanda desinfecção. É sempre recomendável encaminhar amostras desta água para análise laboratorial a fim de comprovar a sua qualidade e definir no projeto o correto reaproveitamento com medidas de tratamento.

Vantagens de reutilização da água de lençol freático

Uma das principais vantagens é a constante oferta, não sendo limitada a períodos de estiagem como as águas pluviais, garantindo uma economia substancial em poupar água potável.

Desvantagens de reuso

A permanente manutenção do sistema de bombas no poço e a eventual falta de energia elétrica podem acarretar problemas de inundação de subsolo. Isso em casos de não haver uma vedação correta nas tampas de inspeção do poço elevatório e/ou estas não forem edificadas para resistirem às forças de empuxo das águas do lençol freático.

O desconhecimento do lençol freático e seu entorno com outras fundações de edificações vizinhas pode impactar em colapsos de estruturas vizinhas, resultando em sérios problemas. Neste caso, um estudo hidrogeológico do entorno passa a ser fundamental para a decisão de reutilização da água do lençol freático.

Confira nosso próximo post com recomendações e alternativas técnicas para o projeto de reaproveitamento de água, seja pluvial, cinza, ou de lençol freático.