Estrutural

Fundações e estruturas: use um software com interação solo estrutura

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Como foi explicado nos posts anteriores, na análise de fundações e estruturas a resposta estrutural real é o resultado do trabalho conjunto do sistema superestrutura-fundação-solo. A relação de rigidez entre estas partes e a natureza da carga (estática ou dinâmica) definem se a interação solo estrutura (ISE) deve ou não ser levada em consideração.

No caso da ISE ser considerada, a complexidade dos modelos e as dificuldades de cálculo tornam muito complicada uma operação manual. Por outro lado, as diferenças com relação ao cálculo tradicional (sem considerar a interação solo estrutura) são facilmente percebidas. O efeito P-Delta, por exemplo, pode ser incrementado significativamente e a resposta dinâmica também pode ser alterada de forma importante. Assim, a utilização de um software com possibilidade de considerar a ISE na análise, de forma automática, parece ser a opção indicada.

Analisaremos a seguir três dos programas disponíveis no mercado consideram a ISE.

SAP 2000

O software é completamente geral, permite a modelação do sistema estrutura-fundação-solo. Para o modelo do solo podem ser utilizadas molas (springs) com comportamento linear ou elementos de tipo LINK com comportamento linear ou não-linear, que podem trabalhar somente em compressão. Nestes elementos também pode-se definir o comportamento plástico e amortecimento.

O programa permite modelar e analisar diferentes tipos de fundações e estruturas. Para as fundações superficiais (sapatas, lajes de radier) podem-se definir elementos superficiais apoiados sobre o terreno modelado com molas. O coeficiente elástico da mola pode ser definido diretamente nos nós ou por unidade de área. Neste caso, o SAP 2000 distribui automaticamente as molas associadas com a área para os nós localizados nos vértices do elemento de superfície.

O mesmo acontece com os elementos lineares (vigas de fundação, estacas) onde pode ser definida uma rigidez das molas por unidade de comprimento. O sistema disponibiliza também elementos superficiais que trabalham no estado de deformação plana, que permitem fazer modelos de interação solo-estrutura em 2D e elementos finitos de tipo SOLID que permitem a modelação de problemas em 3D. A análise pode ser estática ou dinâmica, linear ou não linear.

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Eberick

O programa permite calcular diferentes tipos de fundações e estruturas. Podem-se definir modelos de trabalho conjunto (estrutura- fundação- solo) para o caso de fundações superficiais, como sapata, vigas de fundação, lajes de radier e tubulões. Nas fundações superficiais isoladas (tipo sapata) devem ser definidos os coeficientes elásticos de translação e rotação das molas. O processo iterativo já descrito não é automatizado, mas pode ser feito sem dificuldade.

Na documentação do Eberick, é indicado que o modelo utilizado para cálculo dos esforços no radier seja baseado na hipótese de que o elemento é apoiado sobre base elástica, em que a placa é substituída por uma malha (grelha) sobre apoios elásticos equivalentes. Neste modelo a base é obtida a partir das características do solo e o seu comportamento é baseado na hipótese de Winkler.

Os coeficientes de recalque vertical e horizontal do solo devem ser definidos de acordo com estudos geotécnicos no solo existente no local da obra. O solo é modelado por molas distribuídas continuamente ao longo da superfície do elemento, e as pressões de contato são proporcionais aos recalques, até ser atingida a pressão que leva a plastificação do solo.

A pressão de contato em um ponto qualquer no interior do elemento de placa será calculada mediante:

ps = kv.d

Onde kv é o coeficiente de reação vertical do terreno, e d é a deflexão vertical no ponto considerado.

Ilustração de uma base com vigas formando uma estrutura

Figura 1. Deslocamentos no radier após uma análise de ISE no Eberick

Os tubulões são modelados com molas em meio elástico. Deve ser definido o coeficiente de recalque vertical do solo e o coeficiente de Poisson de cada camada do solo. O Eberick multiplica o coeficiente de recalque vertical pelo coeficiente de Poisson para obter o coeficiente de recalque horizontal. Este, multiplicado pelo valor da discretização e pela contribuição do solo, fornece o coeficiente de mola, que representa a rigidez do material no entorno do fuste do tubulão.

Ilustração feita no Eberick de uma estrutura suportada por tubulões

Figura 2. ISE no Eberick. Esforços axiais em uma estrutura suportada por tubulões.

CAD TQS

O sistema conta com o módulo SISES/TQS. A filosofia básica do SISES/TQS consiste no seguinte:

O modelo básico lançado pelo engenheiro estrutural é passado ao engenheiro geotécnico que alimenta no sistema diversas sondagens realizadas no terreno. São selecionados os tipos de fundações mais adequados para o projeto e estas são pré-dimensionadas pelo engenheiro geotécnico e são selecionados critérios de projeto para a simulação da presença do solo junto aos elementos de fundação. A seguir o SISES/TQS cria um novo modelo estrutural da fundação contendo toda a superestrutura, em conjunto com os elementos de fundação, discretizados convenientemente e com a influencia do solo já integrada. Este novo modelo é resolvido e o engenheiro geotécnico analisa os resultados para todas as condições de carregamentos para verificar a adequação dos elementos de fundação adotados com as tensões de ruptura, a capacidade de carga do solo e os recalques máximos mobilizados, se necessário, são realizados ajustes nos elementos da fundação e o processo é refeito até que a solução desejada seja atingida. O novo modelo integrado solo-estrutura é repassado ao engenheiro estrutural, que avalia as respostas nos elementos estruturais. Caso necessite, são feitas as alterações necessárias. O modelo solo-estrutura é reprocessado até atingir uma configuração de projeto conveniente. O modelo pode ser repassado ao geotécnico que avalia a nova distribuição de esforços e recalques na fundação.

Todos os elementos são modelados com elementos lineares. O modelo mecânico utilizado é o de Winkler, este considera que, no solo junto à fundação, as tensões são proporcionais aos recalques e não existe influência entre o ponto de aplicação das tensões com a vizinhança.

Se estabelece, dessa forma, uma relação pontual entre fundação-solo, mediante a definição de uma constante de mola que representa a rigidez do maciço. Devem-se definir os valores dos módulos da reação vertical e horizontal Kv e Kh.

Conclusões

A resposta estrutural do sistema superestrutura-fundação-solo, como foi mostrado nos post anteriores, depende de vários fatores. A análise das características do solo, das fundações e estruturas indicará se é justificável ou não um modelo que considere a ISE.

O modelo adotado deverá representar adequadamente o comportamento do sistema superestrutura-fundação-solo. Um ponto muito importante é a validação do modelo através dos resultados obtidos. Podem ser incluído parâmetros ou propriedades de difícil determinação, com valores diferentes ante a presença de cargas estáticas e dinâmicas, e uma determinação incorreta pode levar a um modelo errado. O tipo e a complexidade do modelo têm muita relação com isto.

No caso da análise dinâmica, avaliar se deve ser considerada ou não a massa do solo e a fundação. A forma com que o programa trata estes itens, quais teorias, hipóteses e simplificações são consideradas, a possibilidade de análise não linear, ainda, se a ISE é considerada no cálculo do efeito P-Delta, são pontos importantes na seleção do software.