Como o AltoQi Eberick foi utilizado na expansão do Parque do Povo em Campina Grande
Estrutural

Como o AltoQi Eberick foi utilizado na expansão do Parque do Povo em Campina Grande

Tempo de leitura: 15 min.

Olá, aqui quem escreve mais uma vez é o Leovegildo Douglas. Na primeira parte deste papo, eu me apresentei e conversamos sobre o contexto social e econômico da ampliação do “Parque do Povo”, espaço onde acontece “O Maior São João do Mundo”, na cidade de Campina Grande, e como as ferramentas da AltoQi estiveram presentes no projeto. Agora, vamos conversar um pouco mais sobre alguns aspectos técnicos em relação ao uso do Eberick no projeto estrutural de algumas das estruturas auxiliares do complexo. 

Importância do Eberick no projeto de estruturas em obras públicas

O projeto de estruturas é uma etapa deveras importante no desenvolvimento de qualquer obra pública e, infelizmente, muitas vezes relegado a segundo plano. Com a consciência de sua importância e introdução do BIM nos processos licitatórios de gestão, os projetos estruturais ganham importância ainda maior e assumem, junto com a arquitetura, o papel de direcionar todo o desenvolvimento do objeto projetado. 

Assim, o uso de ferramentas computacionais como o Eberick que proporcionem: 

  • flexibilidade na concepção estrutural; 
  • capacidade de análise avançada; 
  • desenvolvimento minucioso dos cálculos; e  
  • um detalhamento coerente e esteticamente agradável; 

é essencial nesta etapa, tendo especial impacto na qualidade do projeto, na assertividade do processo licitatório e, consequentemente, na execução do bem público projetado. 

Convém reafirmar sempre também que, independentemente da ferramenta utilizada, o conhecimento técnico necessário ao engenheiro continua sendo essencial.  

Projeto estrutural não se trata apenas de operar um software, mas ter a capacidade de conceber, analisar e tomar decisões sobre os resultados obtidos e suas implicações.  

Os softwares utilizados constituem meras ferramentas para otimizar o trabalho do projetista, permitindo que este possa analisar diferentes cenários e implicações de maneira eficiente.  

Por fim, a ferramenta escolhida apresenta uma especial contribuição no “toque final” do projeto, com a comunicação visual adequada no detalhamento técnico, proporcionando melhor execução. 

Projeto de expansão do “Parque do Povo”

Conforme descrito no primeiro artigo desta série, os projetos de revitalização do Parque Evaldo Cruz envolvem uma série de disciplinas, bem como a construção / adequação de diversos mobiliários públicos distintos e independentes entre si. Foram objetos de projeto estrutural: 

  •  o pátio de eventos; 
  • a praça de alimentação; 
  • o ponto de ônibus; 
  • o estacionamento subsolo; 
  • o centro cultural; e  
  • o viaduto de ligação entre o Parque do Povo e o Parque Evaldo Cruz. 

Na grande maioria dos projetos, foi utilizado o Eberick como ferramenta principal. Pátio de eventos, praça de alimentação e ponto de ônibus utilizaram especialmente as soluções de estruturas metálicas para avaliação e verificação dos perfis. Já para o projeto do estacionamento subsolo e do centro cultural, foi utilizada a parte de concreto protendido.  

Neste artigo discorreremos mais sobre alguns aspectos técnicos do projeto relacionados às ferramentas para protensão dentro do Eberick. 

Projeto do Estacionamento Subsolo e do Centro Cultural

O conjunto de estacionamento subsolo e centro cultural são projetados conjuntamente, compreendendo ~ 5218 metros quadrados (m²) de área construída em pavimentos subsolo e térreo. A concepção envolve 168 pilares e um conjunto de 91 painéis de laje distintos.  

Utilizando os recursos de concepção do Eberick, foram lançadas as rampas de acesso ao estacionamento subsolo e, seguindo a concepção arquitetônica e topografia local, foram alocadas paredes de contenção laterais para os trechos que estão submetidos ao empuxo lateral. Foram utilizadas lajes nervuradas com 80 centímetros (cm) de intereixo e 30 cm de altura, com mais 10 cm de capa de concreto. Em virtude da boa capacidade de solo, optou-se pelo uso de sapatas. 

A Figura 1 (abaixo) exibe de maneira simplificada a planta de forma do conjunto estacionamento + centro cultural e algumas vistas 3D da edificação: projeto_do_estacionamento_subsolo_e_do_centro_cultural_com_eberick_parque_do_povo_campina_grande_sao_joao

Utilizando as ferramentas para lançamento e concepção estrutural do Eberick e objetivando otimizar o processamento computacional, o projeto foi propositalmente dividido em duas partes.

A parte 1, (à esquerda na figura acima), compreende majoritariamente o estacionamento subsolo e seus acessos, e possui uma modulação de 5 x 5 metros (m) bem definida pela arquitetura, já prevendo juntas de dilatação a cada 15m. Além disso, possui confinamento lateral aterrado ao seu redor, que utiliza paredes de contenção. 

Nesta primeira parte não foi utilizado concreto C-30 sem auxílio de protensão. Apesar das cargas utilizadas serem altas, a modulação e continuidade das vigas permitiu que seções 20 x 50 cm conseguissem atender aos requisitos de ELU e ELS para o contexto. Nessa região, trata-se de um projeto comum, sem grandes desafios estruturais, apesar de sua relevância dentro do complexo. 

Entre as variáveis mais “sensíveis” desta etapa, pode-se citar as cargas utilizadas e as aberturas existentes no meio de painéis de laje. Por se tratar de mobiliário urbano, prevê-se a circulação pública por sobre as lajes do pavimento térreo, além do conhecido uso especial durante os festejos juninos. Por isso, nesta região foram previstas cargas permanentes adicionais de 300 kgf/m² e cargas acidentais de 500 kgf/m².  

Ao redor das aberturas são previstos bancos públicos e foi considerada carga linear de 139 kgf/m nestas bordas. Por fim, o projeto arquitetônico previu que parte da laje do pavimento térreo seria ocupada por uma praça para prática de skate. Assim,  seus elementos foram inseridos como cargas permanentes, localizadas em áreas específicas, que variam de 630 a 1800 kgf/m², conforme dimensões dos obstáculos projetados.  

Todas estas variáveis conferem maior complexidade ao que seria um projeto “simples” e foram possíveis de implementação com as ferramentas de modelagem do Eberick.  

A Figura 2 (abaixo) apresenta breve recorte da planta de forma do pavimento térreo, exibindo modulação de pilares e aberturas nas lajes nervuradas. projeto_terreo_com_eberick_parque_do_povo_campina_grande_sao_joao

A parte 2 do projeto, por sua vez, apresenta maior complexidade técnica. O pavimento ao nível do subsolo passa a ter acesso de pedestres por uma de suas faces e não é mais utilizado como estacionamento, ganhando o uso de centro cultural.  

Esse ambiente será utilizado para eventos e exposições anualmente e ganhará especial destaque durante os festejos juninos, tendo seu espaço integrado à circulação das pessoas durante “O Maior São João do Mundo”. 

Aqui, no pavimento térreo, surgem vãos maiores (10 m), mantendo as altas cargas atuantes nos painéis. Além disso, uma grande abertura no centro de um dos painéis cria uma complexidade adicional, especialmente em relação ao ELS-DEF. projeto_centro_cultural_com_eberick_parque_do_povo_campina_grande_sao_joao

Aqui, foi utilizado concreto C-40 e, em virtude dos grandes vãos e cargas, optou-se pelo uso da protensão não aderente, com cordoalhas CP-190-RB Φ12,7 mm. Utilizando as ferramentas de protensão do Eberick, os cabos foram lançados e agrupados em faixas protendidas, dando especial atenção aos painéis de lajes e vigas com maiores vãos, e à proteção das bordas da abertura. 

Assim, ajustando o traçado dos cabos para atendimento aos estados limites de serviço requeridos para a protensão, também via Eberick, são gerados os detalhamentos, com as elevações dos cabos agrupados por faixas horizontais e verticais (figura 4, abaixo). projeto_protensao_centro_cultural_com_eberick_parque_do_povo_campina_grande_sao_joao

Principais desafios do projeto

Alguns outros aspectos relevantes merecem citação neste projeto. Primeiro, dadas as altas cargas acidentais, é importante que seja feita a avaliação de alternância de cargas acidentais. Essa verificação é obrigatória desde a versão de 2003 da NBR 6118. Neste projeto, essa avaliação foi feita por meio da criação de diversos modelos semelhantes, com o ajuste das cargas acidentais e sua análise 1 a 1 em cada contexto. 

Entre os principais desafios nesta etapa estão a compatibilização dos esforços para análise de cada modelo e o filtro dos resultados para uso no detalhamento que viria a seguir. 

Ainda, dada a previsão de uso do espaço durante os festejos juninos, com alto tráfego de pedestres, deu-se especial atenção à análise dinâmica da estrutura, com avaliação dos modos de vibração também utilizando as ferramentas nativas do Eberick. A figura 5 (a seguir) exibe a grelha e vistas 3D do projeto de maneira simplificada. projeto_grelha_centro_cultural_com_eberick_parque_do_povo_campina_grande_sao_joao

Ufa! Após várias etapas complexas na análise da estrutura, é feito todo o detalhamento, com a devida edição de armaduras e geração de pranchas e memoriais. Nesta etapa, os recursos do AltoQi Eberick foram utilizados para a verificação dos elementos individualmente e, posteriormente, para a escolha da combinação de barras. 

No detalhamento final, o projeto contou com o total de 37 pranchas que, em virtude das dimensões da edificação, tiveram tamanho não convencional (> A0). Em termos de quantitativos, o memorial contabilizou 1680 m³ de concreto, 95 toneladas de aço passivo e 2,78 toneladas de aço ativo. 

Conclusão

Foram nove longos meses de trabalho debruçado neste projeto e em todos os outros do complexo da obra de ampliação do Parque Evaldo Cruz e integração com o Parque do Povo para ampliação d"O Maior São João do Mundo". 

A sensação é de orgulho por poder participar de tão importante obra para a cidade e todo o contexto cultural que ela envolve. Esperamos que as obras tenham sido concluídas para a edição da Festa em 2025 para que possamos caminhar por aquilo que esteve na nossa pauta de projetos. 

Conforme citado na primeira parte deste artigo, este projeto me proporcionou a incrível experiência de representar o Brasil na seção Young Practicing Engineer dentro da convenção do American Concrete Institute. Em março de 2024 pude estar em New Orleans (LA) apresentando o projeto e circulando em um dos maiores eventos sobre concreto e engenharia estrutural do mundo.  

Com isso, fica o relato de experiência de uso do AltoQi Eberick numa obra complexa. Foi uma honra compartilhar esta experiência com vocês e fico inteiramente disponível para trocarmos figurinhas no LinkedIn, Bilds e Instagram 

Para saber mais sobre o uso das ferramentas avançadas de análise que usei, acesse a Base de Conhecimento do AltoQi Eberick e os cursos da AltoQi QiEducation.  

Abraço e até mais.