Conheça o trabalho do engenheiro Alberto de Oliveira Rodrigues, que ganhou destaque na Casa Vogue.
“A casa na região do Cacupé, em Florianópolis, parece flutuar no espaço”, descreve a matéria da Casa Vogue, a revista referência no Brasil em decoração, design, arquitetura. Trata-se de um desafio estrutural complexo, elaborado por Alberto Rodrigues.
Durante um bate-papo com nossa equipe, Betinho, como costuma de ser chamado, contou em detalhes a concepção do projeto com construção suspensa, vista para o mar e área de 542 m². Além do uso sustentável da água e luz solar.
De acordo com o engenheiro, sua primeira preocupação foram os pilares metálicos. “Se não fossem eles, a casa perderia a graça e a ideia do arquiteto seria prejudicada”, explica.
Henrique Pimont, responsável pelo projeto arquitetônico, convidou Alberto para participar desta casa durante uma conversa entre amigos. “Ele me enviou o arquitetônico na sexta-feira, para que eu respondesse na segunda se a casa ficaria em pé. Às 8h da manhã da segunda eu liguei e disse: pode tocar”.
Segundo Alberto, primeiro a concepção é idealizada no papel e leva cerca de um dia. Depois disso, ele precisa de mais 12 horas para o lançamento no software Eberick. “Se eu consigo mentalmente já idealizar alguma coisa, quando entro no software meu projeto já está otimizado. Claro que depois disso a gente refina”, explica.
No total, o projeto estrutural da casa em Cacupé rendeu mais de 50 modelos diferentes no Eberick em apenas 10 dias de lançamento. “O lançamento é maravilhoso e a simulação te dá segurança. Seria difícil conceber se não fosse essa facilidade”, explica.
O projeto resultou em 113 pranchas e apenas 3 idas até a obra.
3 visitas em cerca de 485 dias de obras: “Meu projeto é autoexplicativo”
Antes de iniciarmos a conversa de fato, Betinho nos mostrou com orgulho uma pasta repleta com desenhos e cálculos detalhados do projeto, cerca de 50 de folhas para ser exata. Uma grata surpresa para todos nós. “Em geral, não existe essa prática de colocar no papel, o que é importante”, contou.
De acordo com o engenheiro, isso minimiza as idas na obra, já que o projeto está muito bem detalhado. “Meu projeto é autoexplicativo”, disse. Ele tem como objetivo elaborar tudo com o máximo capricho, incluindo detalhes construtivos para que os demais profissionais compreendam cada etapa da concepção da obra.
Um verdadeiro desafio estrutural
“Estou há 40 anos trabalhando para vários arquitetos, mas já tinha ideia de que este projeto seria diferente, que teria uma projeção”, reconhece Alberto.
Os desafios foram identificados já nos primeiros contatos com o projeto arquitetônico. Afinal, o elemento de maior destaque está suspenso.
“Alguns pilares eu dei robustez para que trouxessem rigidez ao cálculo matricial, trazendo a responsabilidade para quem pode absorver. Assim, a estrutura começa a redistribuir, buscar caminhos.”
Quando perguntado sobre os grandes vãos, observados na parte superior da casa, Alberto explica que eles tinham vigas em balanço com apenas 35 cm. “Estávamos trabalhando com tensões elevadas, eu não queria arriscar”. À vista disso, diversas simulações foram feitas.
Em algumas vigas foram incorporadas armaduras adicionais, para ajudar o concreto na compressão. “Apesar de a armadura ser muito densa, conseguimos fazer um orçamento com estrutura mista 1/3 abaixo do que se fosse metálica”.
Além dos inúmeros desenhos, o engenheiro e os demais profissionais envolvidos com o projeto se reuniam regularmente. De acordo com ele, as reuniões de compatibilização costumavam levar horas, mas foram fundamentais para entender as dificuldades dos demais especialistas.
O problema da escada
A escada da casa possui dois apoios e o restante de sua estrutura está totalmente em balanço. “Inicialmente realizei cálculos adicionais. Se sou um engenheiro descuidado, não teria verificado a frequência natural. Esse número pode ser traduzido assim: se uma pessoa desse 4 pulos rápidos por segundo, a escada viria abaixo”, explica. No caso desse modelo, o número de excitações verticais foi estendido para 7.
Para modelar uma escada como esta, autoportante, além das cargas verticais, também ocorrem esforços horizontais que precisam ser considerados para dimensionamento dos apoios.
“Quando a obra estava pronta, eu liguei para o meu amigo arquiteto e disse: dá uns pulinhos rápidos na escada e depois me liga para dizer se está tudo certo, porque a gente confia no software, mas precisa de um feedback, né?”, brinca.
A precificação de um projeto arrojado como esse é muito diferente?
A resposta é não! Alberto nos contou que a precificação dos seus projetos, independente da complexidade, partem da tabela regulamentadora do CREA. Salvo quando existem transições que adicionam valores, estes são estabelecidos pela ABCP.
Ainda segundo o engenheiro, para precificar um projeto, faz-se necessária uma redação técnica da proposta, com explicações precisas dos números.
Outro aspecto importante é a entrega do projeto. “Todos os meus projetos saem em um caderno A3 para que o cliente consiga compreender o seu investimento. É um desdobramento, um volume útil”, aponta Alberto.
Por outro lado, os ganhos de maior valor para ele não são exatamente palpáveis. “Eu tenho um filho que é engenheiro, então já vou passando todo o conhecimento para ele. É um ganho indireto!”, diz.
Finalmente, quando perguntamos se ele preferia desenvolver projetos de edificações com muitos pavimentos, ou residências que são desafios estruturais atípicos, como a casa em Cacupé, Betinho responde de imediato e com um largo sorriso no rosto: “Desafios, com certeza. É o que eu gosto de fazer!”.