Vimos no primeiro post da “Série Patologias Hidrossanitárias”, 17 falhas comuns em projetos de instalações hidráulicas que envolvem água potável. Agora, vamos conferir recomendações para oito inconformidades prováveis de acontecer em projetos mal elaborados para esgotamento sanitário.
Principal erro: ligação direta e em nível de tubo ventilador secundário em coluna de ventilação, sem a presença de alça de ventilação com altura adequada.
Este é o maior problema existente nas instalações de esgotamento sanitário. Poucos colocam os ramais secundários de ventilação do esgoto em seu ponto correto e fazem a alça de ventilação com uma altura adequada. Com essas falhas, surgem problemas, como mau cheiro nos banheiros e quebra do selo hídrico dos desconectores.
Mesmo que se projete corretamente, alguns encanadores, na hora da execução das obras, tratam de suprimir esta alça acreditando em uma economia, por total desconhecimento de sua serventia. Também, em geral, o ramal de ventilação deve sempre iniciar em um ponto entre o desconector (caixa sifonada) e o ramal primário de esgoto sanitário.
Principal erro: ramais de descarga subdimensionados.
Em geral, as máquinas de lavar roupas e louças possuem uma vazão de descarte instantânea maior e com mais pressão de lançamento. Um ramal subdimensionado pode acarretar transborde de água do desconector no piso.
O dimensionamento das tubulações de esgotamento sanitário é realizado a partir da somatória de pesos atribuídos às peças sanitárias e da consulta a tabelas apresentadas na norma da ABNT, considerando o Método das Unidades de Hunter de Contribuição – UHC. Lembrando que a UHC é o fator numérico que representa a contribuição considerada, em função da utilização habitual de cada tipo de aparelho sanitário. Para máquina de lavar roupas, a norma define UHC igual a 3 e diâmetro mínimo de 50mm. Nas máquinas de lavar louças, UHC igual a 2 e diâmetro de 50mm. Sendo assim, diâmetros inferiores não são recomendados.
Principal erro: colunas de ventilação de esgoto e tubos ventiladores primários instalados em locais inadequados na cobertura, em regiões de depressão quando da incidência de ventos fortes.
Quando isso acontece, os odores desagradáveis são devolvidos para dentro da edificação. Recomenda-se que os terminais de esgotamento sanitário sempre se prolonguem 30 cm acima da cobertura e, se estiverem em terraços, essa altura não pode ser inferior a 2 m, a fim de que os gases fétidos não retornem para os ambientes em uso, tais como áticos, sacadas, terraços de salões de festa, piscinas e apartamentos.
Principal erro: instalação com falta de fecho hídrico e retorno de gases ao ambiente
Importante relembrar que o fecho hídrico é a altura de coluna líquida localizada em produtos que necessitam impedir a presença e a passagem de gases e, consequentemente, o mau cheiro proveniente do esgoto primário, em relação ao esgoto secundário. Assim, ele funciona como uma barreira de proteção, já que a água, por ser mais pesada do que o gás, impede o surgimento de mau cheiro transmitidas junto as peças de utilização.
Portanto, é fundamental garantir a presença do fecho hídrico, em caixas e ralos sifonados, bacia sanitária e sifão de copo. O correto é definir uma altura de conexão do sifão flexível, pelo menos de 50 cm de altura (mínima) do piso até o ponto de conexão para que possa haver um espaço suficiente para conformar o sifão. Caso contrário, o mau cheiro proveniente do esgotamento sanitário primário chegará ao ambiente.
Principal erro: inexistência de redução excêntrica e redução da seção útil de ralos planos por manta de impermeabilização superficial da laje e de sua proteção mecânica.
Um dos problemas que ocorrem em obra são os relativos à impermeabilização de caixas sifonadas e ralos, através de mantas de impermeabilização e sua colocação de forma inadequada. Aconselha-se, em projeto e na obra, posicionar a caixa sifonada no canto do box. Por sua vez, a manta asfáltica, um impermeabilizante pré-fabricado à base de asfalto, deve ser aplicada sobre o contra piso e embaixo da argamassa. A manta asfáltica é colocada, estendendo-se até dentro da caixa sifonada. O objetivo desse impermeabilizante é coletar a água que advenha dos rejuntes do piso e encaminhá-la para dentro da caixa sifonada. Portanto, a manta asfáltica é uma garantia a mais contra infiltrações, no caso da falha de outros recursos.
Principal erro: subdimensionamento de caixas coletoras e coletores para águas pluviais.
As águas pluviais sempre são motivo de dor de cabeça quando o projeto não as contempla com todos os critérios técnicos que as envolve. Mesmo cercando-se de todas os cuidados, a natureza nos surpreende com chuvas que vão além do projetado. Por isto, muitas vezes, todo o exagero de se prever dispositivos para sua coleta não chega a ser ociosidade. Um bom projeto busca o equilíbrio entre custo e benefício destas instalações. Para tanto, é preciso conhecer a dinâmica das chuvas na região e o conhecimento da engenharia para prever um número suficiente de caixas coletoras e coletores que deem vazão suficiente a estes deságues.
Principal erro: posicionamento de poço de drenagem sob vaga de garagem dificultando manutenção urgente.
Muitas vezes coisas simples passam despercebidas nos projetos. A locação correta das caixas de inspeção é um exemplo. Deve-se procurar locais onde elas fiquem livres para serem acessadas em qualquer tempo. Um carro estacionado sobre uma área onde existe uma caixa de inspeção ou uma tampa de acesso para uma estação elevatória pode ocasionar, momentaneamente, um grande transtorno, até que se encontre o proprietário do carro para movê-lo do local.
Principal erro: capacidade baixa dos condutores verticais, causando extravasão ou transbordamento das calhas coletoras de água da chuva.
Não é raro ocorrer transbordamento de calhas em forros e lajes de teto em época de chuvas intensas. Conforme a intensidade e a duração da chuva, a água extravasa para dentro do ambiente causando sérios prejuízos e aborrecimentos para os seus usuários. Nem sempre o problema está na capacidade das calhas em si, mas nos condutores que estão com pouca capacidade. Assim, o projetista deve ter em mente que é preciso ampliar a capacidade dos condutores verticais, antes de aumentar as secções das calhas.
Para corrigir o problema de escoamento, geralmente, pensa-se em algo radical: trocar as calhas existentes por outras com maior secção, o que nem sempre é viável ou fácil de ser feito no local, por vezes requerendo modificações no madeiramento sob as telhas, com elevado custo e dificuldade de execução. Por isso, resta como alternativa mais viável o aumento da capacidade de escoamento do condutor vertical, que poderá promover uma redução na máxima altura da lâmina d’água dentro da calha.
Você já enfrentou algum desses problemas na hora de projetar ou de executar uma obra? Compartilhe sua experiência. Acompanhe comentários técnicos completos sobre as principais falhas em esgotamento sanitário e instalações de água potável no nosso e-book, que será lançado em breve.