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Eberick: como o software de projeto estrutural evoluiu em duas décadas

Escrito por Gilharde Mazetto | 15/07/2024 11:00:00

Minha jornada como engenheiro civil no desenvolvimento do Eberick - por Gilharde Mazetto

Em 2023, após o período crítico da pandemia, visitei o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba. Por acaso, reencontrei uma engenheira que havia trabalhado comigo na AltoQi, dez anos após sua saída da empresa. Durante nossa breve conversa, ela perguntou se eu ainda estava na AltoQi, envolvido no desenvolvimento do Eberick.

Respondi afirmativamente, e ela comentou que o Eberick já deveria ser como um filho para mim, considerando os anos dedicados ao aprimoramento desse software. Ela estava certa, de fato, há semelhanças entre cuidar de um filho e dedicar-se tanto ao desenvolvimento de um programa, buscando sempre o melhor resultado. 

Quem conhece a AltoQi hoje, expoente nacional no desenvolvimento de softwares para engenharia e soluções integradas para a construção civil, não deve imaginar a AltoQi mais modesta que eu conheci em 2010. Naquele ano, eu havia concluído a graduação em Engenharia Civil na UFSC e buscava minha primeira oportunidade como engenheiro recém-formado. 

A AltoQi me proporcionou a chance de trabalhar no desenvolvimento do programa Eberick, voltado para projetos estruturais. Considerei a proposta de ser engenheiro civil desenvolvendo software muito interessante e desafiadora, afinal, não é comum cursar Engenharia com essa finalidade. 

O nome Eberick soava familiar, principalmente por palestras ao longo do curso, mas nunca havia o utilizado.

Desde aquela época, a AltoQi disponibiliza uma versão demonstrativa do Eberick, algo que teria me auxiliado bastante nas disciplinas de Concreto Armado e Análise Estrutural. Poderia ter conferido os meus resultados nos trabalhos acadêmicos das disciplinas da linha estrutural.

Portanto, se você é estudante, aproveite a versão demonstrativa e conheça mais sobre essa poderosa ferramenta. 

Inicialmente, passei por um extenso treinamento sobre o Eberick, composto por tutoriais, cursos (como os atualmente disponibilizados pela AltoQi Education) e exercícios práticos de uso do programa. Além de aprender sobre a ferramenta em si, também foi necessário entender o processo de desenvolvimento de softwares.

Naquele momento, o departamento de desenvolvimento da AltoQi contava com um processo bem estabelecido, que me permitiu compreender como a empresa se organizava para entregar seus resultados. Todo o treinamento foi mentorado de perto por engenheiros mais experientes, sendo fundamental para minha formação. 

Identifiquei-me profundamente com o Eberick, com sua interface intuitiva e ótimos recursos técnicos. Correlacionei o Eberick com algumas experiências próprias, como:

  • traçar diagramas de esforços solicitantes;
  • resolver estruturas matricialmente pelo método dos deslocamentos;
  • realizar análises de 2ª ordem e avaliar o Gama-Z, entre outras. 

Naquele momento, eu ainda não sabia, mas aquele software e aquele emprego mudariam a minha vida.

O trabalho parecia interessante para a aprendizagem sobre projetos e para o domínio de uma ferramenta muito relevante no mercado de projetos estruturais. 

Nesses quase 15 anos de empresa, cada um deles foi desafiador. Tive a oportunidade de passar por vários cargos dentro do departamento de desenvolvimento. Iniciei como Assistente de Testes, depois Analista de Testes, seguindo como Analista de Requisitos até Especialista de Engenharia, para então adentrar na Gestão de Pessoas, como Supervisor, Coordenador e, atualmente, como Gerente de Engenharia.

O que todos esses cargos têm em comum? São todos na Engenharia do Eberick.

Tenho certeza de que meu conhecimento acadêmico e a trajetória profissional na AltoQi me proporcionaram um trabalho com o qual mais me identifico no ramo da Engenharia. 

Atualmente, meu principal papel é o de gerenciar o desenvolvimento do software Eberick, sob o ponto de vista da Engenharia, representando-o perante a empresa, consolidando seu nome no mercado e inspirando meu time a desenvolver e aprimorar esse enorme legado.

Eu me transformei, a AltoQi se transformou e o Eberick se transformou, mas para entender isso melhor, vamos precisar voltar mais um pouco no tempo... 

Como o Eberick se tornou a ferramenta que eu conheci (2000-2010) 

Coube a mim continuar a história do programa, seguindo do ponto em que parou o artigo escrito por André Banki, Chief Technology Officer da AltoQi. . 

No Eberick 1.0 (MVP), lançado em 1997, os conceitos do programa já estavam claros:

  • sistema operacional Windows;
  • estrutura integrada (vigas, pilares e lajes como elementos inteligentes interativos);
  • programa permite lançar, analisar, dimensionar e detalhar estruturas de concreto armado.

Na segunda versão, Eberick 32 (1998), foi obtida uma performance superior (32 bits), além da aplicação automática do vento (Master) e o lançamento do AltoQi Formas (planta de formas e cortes gerados automaticamente).

No Eberick 2000, o grande recurso foi a representação tridimensional dos elementos. No entanto, a distância em recursos técnicos de engenharia ainda era bem grande em relação aos principais concorrentes. 

Nos primeiros anos do novo milênio, o Eberick seguiu forte o seu desenvolvimento, mesmo com a AltoQi passando a investir também em programas para linhas de instalações, inicialmente com o Hydros e, logo depois, com o Lumine. 

Na quarta versão do Eberick, chamado na época de Eberick 2002, introduziu-se o conceito de “Módulo” como um conjunto de recursos que poderia ser adquirido a parte pelos usuários. Resumidamente, os seguintes módulos foram estabelecidos: 

  • Master: aplicação do vento e combinações de ações.
  • Formas: planta de formas e cortes.
  • Escadas: níveis intermediários e inserção de escadas.
  • Fundações: dimensionamento e detalhamento de blocos de coroamento e sapatas.
  • Lajes treliçadas: novos tipos de laje com armações treliçadas. 

Nessa mesma versão, foi criada uma limitação do número de elementos, pavimentos e área projetada, chamada “Versão Personal”.

Assim, clientes que utilizariam o software para projetar estruturas menores poderiam adquirir a ferramenta por valores mais acessíveis. Ao longo dos anos, foram criadas outras aplicações de limitações e separações de pacotes de módulos, até chegar ao modelo de hoje. 


 4 CDs de instalação do Eberick em suas primeiras versões 

Em 2004, a AltoQi alterou a nomenclatura das versões, lançando o AltoQi Eberick V5. Nessa versão, também foi realizada uma importante modernização da interface do programa, que ocorreu por meio de uma sequência de versões Betas. Essa interface permaneceu no programa por aproximadamente 15 anos. Estou citando aqui alguns recursos e versões com alterações-chave da história do programa, mas cada atualização gerada sempre trazia uma quantidade significativa de novos recursos, melhorias em recursos existentes e correções de problemas. 

Interface do Eberick entre 2004 e 2018 

A versão V5 também marca uma grande mudança nos critérios normativos do programa. Vale citar que todas as versões anteriores eram baseadas na norma vigente à época, a NB 1/1978.

No entanto, em 2003, tivemos a publicação da NBR 6118:2003, que foi uma verdadeira revolução nos critérios normativos, aos quais o Eberick precisaria se adaptar o mais rápido possível. Já no início do período de validade da nova norma, em março de 2004, o Eberick teve uma atualização com grande parte das alterações necessárias e, nas próximas atualizações, foi efetivamente finalizada uma adaptação completa. 

Paralelo à melhoria de recursos, a AltoQi passou a desenvolver uma evolução importante nas lajes: a Versão Gold, que trouxe uma abordagem mais completa do dimensionamento e detalhamento das lajes, além de permitir o projeto de lajes planas, maciças ou nervuradas, apoiadas diretamente sobre os pilares.

Na Versão Gold, o programa determinava a armadura necessária em cada ponto da grelha, tanto para a face inferior como para a face superior, e utilizava isso para distribuir a armadura em faixas e regiões. Essa versão ficou conhecida como Eberick V5 Gold, lançada em dezembro de 2005. 

A intenção era boa, mas as alterações realizadas no programa foram muito complexas, havia sido uma proposta muito audaciosa para a estrutura de desenvolvimento daquela época. Os problemas e as consequências dessa versão estão apresentados em um artigo específico sobre o Processo de desenvolvimento. 

Durante as atualizações do Eberick V5 Gold, também foram desenvolvidos mais dois “módulos clássicos”: Muros e Reservatórios.

Nessa época, ocorreu uma nova estratificação para a linha AltoQi Eberick, passando a conter, além da versão plena, as opções Flex, Flex Standard, Personal e Professional (cada uma com limites de pavimentos, número de elementos e área diferentes). Com esses conceitos criados, finalizou-se a “forma clássica” de comercialização do programa, na época, apenas em versões vitalícias. 

Em julho de 2008, tivemos o lançamento do Eberick V6 e Eberick V6 Gold. A principal diferença da versão V6 é um novo núcleo de processamento, o qual permite a análise da estrutura em um tempo 5 a 10 vezes menor do que na versão V5 Gold. 

Durante o desenvolvimento do Eberick V7, houve um grande marco na aproximação da AltoQi com seus clientes: o projeto Next. Neste modelo, os usuários que aderissem receberiam releases trimestrais com antecipações dos recursos em desenvolvimento, podendo opinar e, muitas vezes, influenciar diretamente na abordagem de desenvolvimento dos novos recursos.

Boa parte dessa comunicação era feita por meio do Blog Next, um blog de desenvolvimento colaborativo da AltoQi, com objetivo de fomentar esse desenvolvimento participativo do programa. Mais informações sobre esse assunto são abordadas em outro artigo: Processo de desenvolvimento.

Blog Eberick: blog de desenvolvimento colaborativo da AltoQi 

Os recursos liberados antecipadamente aos participantes do Next (nessa época, V6 Next) gerariam a nova versão consolidada do programa, o Eberick V7 (2010).

Essa versão foi o resultado do projeto AltoQi Eberick Next, por meio do qual foram incluídos ao programa uma série de novos recursos, que foram disponibilizados aos clientes em oito releases parciais. O meu ingresso na empresa foi justamento nessa época da consolidação do Eberick V7. 

Caixinhas dos antigos Eberick V5 Gold, V6 Gold e V7 

Nos anos seguintes, o projeto Next se tornou o padrão de trabalho no Eberick, com um novo V7 Next dando origem ao V8 e um V8 Next gerando a versão V9.

Muitos recursos foram adicionados ao programa durante nessas versões. O projeto Next consistiu em um conjunto de melhorias criado para o Eberick, visando tornar a utilização do programa mais ágil e completa, diminuindo ainda mais as edições necessárias para a conclusão dos projetos desenvolvidos. 

Desse momento em diante, eu passo a ser testemunha ocular da história.

Aqui vale destacar o quanto foi enriquecedor para mim conhecer mais sobre a origem do software, desde o seu nascimento como abordado no artigo anterior, passando pelas suas evoluções, suas dificuldades e em como a AltoQi criou soluções criativas com os recursos da época.

Preferi não citar os nomes dos envolvidos porque acabaria sendo injusto com alguém, mas a genialidade dessas pessoas, dados os recursos disponíveis e o tamanho dos desafios, é marcante para mim. 

Como vi o Eberick amadurecer e ir além do concreto armado (2010-2014) 

Em 2011, a AltoQi decide aumentar o leque de atuação do Eberick, iniciando o projeto do Eberick Pré-moldados.

O desenvolvimento desse projeto levou cerca de 3 anos e compôs o básico para se projetar uma estrutura pré-moldada como vigas e pilares pré-moldados, lajes alveolares, além de elementos de fundações com cálice (para encaixe dos pilares pré-moldados) e ligações de elementos com consolos e dentes Gerber.

As diferenças dos sistemas construtivos também foram tratadas com inclusão do 2º estágio de concretagem, ligações semirrígidas por barras passantes e análise da estrutura com consideração das etapas construtivas. 

Corte sobre estrutura pré-moldada gerada pelo Eberick 

O desenvolvimento do Eberick Pré-moldados ocorreu em paralelo com as versões V8 e V9 do Eberick, ainda no modelo do projeto Next. Em 2014, novamente, ocorre a atualização da norma principal para projeto de estruturas em concreto armado com o lançamento da NBR 6118:2014. Essa revisão normativa foi liberada para os clientes no último release do V8 Next, em maio de 2014, e consolidada no lançamento do Eberick V9. 

Caixinha, manuais e protetor HASP do Eberick V9 

O lançamento do AltoQi Eberick V9 também marca uma revisão total da Plataforma Eberick, com a dissolução dos módulos existentes e a separação de um novo conjunto de módulos, agora contendo uma distribuição mais específica dos recursos. Também no Eberick V9, foi realizada uma readequação das versões com limitações, passando a ser Lite, Basic, Pro e Plena. 

Na sua versão V9, como novidades, tivemos os módulos “Verificação em situação de incêndio” e “Vigas curvas”. O primeiro adicionou ao Eberick a possibilidade de verificar os elementos estruturais em situação de incêndio, conforme NBR 15200:2012.

O segundo permitiu o lançamento de vigas em arco de circunferência, por meio de três cliques para cada trecho. Dessa forma, os usuários poderiam parar de fazer vários trechos curtos para simular uma viga curva real. 

Lançamento de viga curva no Eberick 

Em paralelo, implementou-se um novo mecanismo de desenho do Pórtico 3D, utilizando recursos modernos de aceleração por hardware, o que resultaria em um aspecto visual e desempenho superiores, quando utilizado em placas de vídeo adequadas. Esse foi um investimento inicial que segue até hoje em aprimoramento no ambiente 3D dos softwares AltoQi. 

Nesse período, o Eberick já tinha revolucionado o acesso a softwares de projeto estrutural, considerado um sucesso desde o seu início. No entanto, a AltoQi ainda não estava satisfeita, era o momento de olhar um pouco mais para cima. 

Como miramos um pouco mais acima (2015-2018) 

No início de 2015, a partir do incentivo de um dos cofundadores da AltoQi, o engenheiro e Dr. Jano d´Araujo Coelho, iniciamos a atuação voltada para edifícios altos.

Até aquele momento, o mercado de projetos estruturais via o Eberick como uma boa solução para estruturas de pequeno e médio porte. Então, entendemos que precisaríamos investir em recursos mais técnicos para esse nicho específico de projetos. 

Apresentação que foi o ponta pé inicial para análise dinâmica no Eberick 

Nos anos seguintes, implementamos uma série de recursos voltados para edifícios altos, começando pela análise modal, com a consideração das massas, obtenção dos autovalores, autovetores e frequências.

Também foi criada a aplicação do vento dinâmico na estrutura, com sua parcela adicional flutuante e consideração na direção transversal. Inseriu-se também a verificação de vibração das lajes do pavimento. Por fim, foi adicionada a verificação de conforto humano, baseada nas acelerações dos pavimentos. 

Em 2015, com o Eberick V9 adequado à atualização da norma, aplicações reajustadas e novos pacotes de módulos menores, a AltoQi passou a trabalhar em duas frentes no Eberick: novos recursos para versões anuais (ainda no modelo Next) e novos módulos importantes para os usuários. 

Nessa época, foram desenvolvidos os seguintes módulos: 

  • Exportador IFC: primeiro passo firme do Eberick na metodologia BIM, exportação do modelo 3D em formato de colaboração IFC. 
  • Concreto de alto desempenho: possibilidade de utilizar concretos de alto desempenho (fck acima de 50 MPa) no dimensionamento dos elementos estruturais. 
  • Editor das grelhas: recurso avançado de análise, que permite editar as propriedades das barras da grelha, além de suas vinculações. 
  • Região maciça em lajes: possibilidade de definir faixas maciças em outros tipos de lajes, como as lajes nervuradas. 

Estes módulos foram disponibilizados no ano seguinte, no AltoQi Eberick V10 (2016), junto com recursos da versão como cotas automáticas da forma, ampliação da análise de flechas, melhorias nos detalhamentos de pilares, lajes e blocos, entre muitos outros. 

Região maciça em continuidades de lajes

Após o lançamento do Eberick V10, a equipe de desenvolvimento voltou a atenção para alguns recursos muito pedidos como: elementos genéricos, contraflecha em vigas, cálculo de custos e otimizações de seções. No entanto, a próxima versão do programa não se chamaria Eberick V11. 

Em 2017, a AltoQi introduziu licenças temporárias. Um modelo de versões anuais, com o nome do ano, seria mais aderente a essa nova proposta, assim foram lançadas as primeiras versões do Eberick 2018 e QiBuilder 2018. Estas nomenclaturas são adotadas até hoje. 

O Eberick 2018 também adicionou dois módulos ao programa: “Efeito dinâmico devido ao vento” e “Exportador para o SAP2000”. Dessa forma, a AltoQi lança o primeiro recurso focado em edifícios altos, produto da ideia plantada em 2015 e desenvolvida nos anos seguintes. 

 Efeito dinâmico devido ao vento

Além disso, o Eberick 2018 é a primeira versão do programa em 64 bits, rendendo ganhos expressivos de performance em todas as operações, além de permitir a utilização de mais memória RAM do sistema operacional, algo fundamental para projetos de grande porte. 

Mesmo após a migração para versões anuais, manteve-se a ideia do projeto Next, dessa forma, a cada trimestre era lançado um release Eberick 2018 Next, os quais consolidariam, no ano seguinte, o Eberick 2019 e assim por diante.

Embora a AltoQi tenha deixado de usar o termo Next, esse é o modelo vigente. Agora, todos os clientes “Assinatura” recebem os recursos que consolidarão a versão “fechada” do ano seguinte. 

Evoluções tecnológicas recentes (2018-2019) 

A AltoQi nunca para de inovar. O Eberick 2018 era 64 bits, mas esse foi o primeiro passo para uma sequência de evoluções tecnológicas, ou seja, para o Eberick 2019 as expectativas eram ainda maiores. 

No Eberick 2019, mais de 20 anos após o lançamento de sua primeira versão, o programa passava a processar o pórtico espacial com todas as grelhas integradas pela primeira vez. O chamado “Modelo integrado” possui muitas barras a mais, mas já não havia as limitações restritivas de memória e de performance, após a troca de ferramentas internas e os 64 bits. Novamente, a genialidade de alguns colegas permitiu que o Eberick desse o próximo passo. 

Modelo integrado de análise 

Nesta mesma versão, foi lançado o módulo Temperatura e retração, que apenas poderia existir no modelo integrado.

Esse módulo resolveu um déficit técnico importante do programa, visto que a aplicação de variações de temperatura e a consideração da retração do concreto são importantes em projetos estruturais de maior porte. 

Além dos recursos técnicos citados acima, aquela interface do Eberick de 2004 já estava muita antiquada, o padrão dos softwares de mercado era a Ribbon, como nos programas do Microsoft Office Word e Excel.

Mesmo o nosso programa irmão “Qibuilder” já possuía a interface baseada em Ribbon. Então, vencidas as amarras tecnológicas, realizou-se um substancial investimento em interface no Eberick 2019. 

Interface do Eberick 2019 baseada em ribbon, destaque para guia Lançamento 

Além da migração natural de todos os comandos existentes no Eberick 2018, realizou-se uma grande revisão e padronização de toda a interface. Foi um salto gigante de qualidade, o programa ficou bonito, mais funcional e intuitivo, especialmente para clientes novos.

Na época existiu uma dúvida se os clientes antigos, acostumados com uma interface diferente, se adaptariam. No entanto, a recepção foi excelente e rapidamente a interface antiga ficou obsoleta. 

Interessante notar como o Eberick continuou sendo aperfeiçoado sem nunca perder seus pontos fortes, como a usabilidade e a produtividade. Aqueles conceitos iniciais do software sempre foram mantidos. 

Interface do Eberick 2019 

Como recursos complementares da versão 2019 destacam-se: hachuras nos detalhamentos (novo padrão de acabamento), segunda vista dos pilares, otimizações dos posicionamentos na planta de formas (evitando sobreposições desnecessárias) e as fundações excêntricas (modeladas diretamente no croqui).

Outro recurso de destaque foi a Análise das vibrações do pavimento, atendendo à recomendação normativa do estado limite de vibrações excessivas. 

Vibrações do pavimento 

Evolução dos recursos BIM (2019-2024) 

Na linha do BIM, o Eberick 2019 trazia inovações importantes que modificaram a forma de utilizar a arquitetura de referência. Pela primeira vez, é possível fazer a importação do IFC, assim, é viável receber o modelo 3D desenvolvido em outro software para dentro do Eberick.

Esse modelo 3D importado pode ser utilizado para criação dos pavimentos e visualização no Pórtico 3D, e também é aplicado para planificação de modelos 3D, modernizando a forma padrão de trabalho no Eberick, que não precisava mais das plantas arquitetônicas importadas em DXF/DWG. 

Planificação do modelo 3D gerando a arquitetura de referência para lançamento dos elementos estruturais 

Daquele ponto em diante, o BIM não tinha mais volta. Desde então, a AltoQi solidificou a sua posição como fomentadora nacional da metodologia BIM, em larga difusão no mercado brasileiro. Nos anos seguintes e até hoje em dia, novos “recursos BIM” foram sendo adicionados ao Eberick e ao QiBuilder. 

Depois da marcante versão 2019 do Eberick, houve um foco em atingir outra meta audaciosa, representar as armaduras no Pórtico 3D, posicionadas dentro dos elementos estruturais.

Então, no Eberick 2020 as “Armaduras 3D” fizeram sua primeira aparição nas vigas e nos pilares. Depois, no Eberick 2021, foram incluídas as armaduras das lajes e das fundações. 

Armaduras 3D no Eberick 2021 

Nas versões 2020 e 2021, dando sequência à evolução BIM dentro do Eberick, foram liberados mais recursos impactantes:  

  • Notas BCF: formato padrão de comunicação openBIM entre softwares. 
  • Verificar colisões (Clash Detection): permitiu fazer compatibilização de projetos multidisciplinares diretamente no Eberick. 
  • Furos automáticos: a partir de uma colisão identificada, por exemplo, um tubo atravessando uma viga, foi possível gerar, diretamente sobre o Pórtico 3D, a furação necessária nessa viga. 
  • Quantitativos na exportação IFC: exportação do consumo de materiais para IFC, nos respectivos elementos. Passo muito importante na linha da orçamentação. 

Furos automáticos no Eberick 

Desenvolvimento de grandes recursos (2021-2024) 

No Eberick 2021, tivemos o lançamento do módulo Dimensionamento de perfis metálicos, solicitação antiga de diversos clientes, incluí análise e verificações dos principais perfis metálicos, segundo a NBR 8800. Assim, o Eberick passa a ser destinado para todos os tipos de estrutura. 

Na linha de recursos técnicos para projetos altos, o Eberick 2021 trouxe a inclusão de mais casos de ventos simultâneos (por exemplo, 8 casos de vento, um a cada 45º) e túnel de vento (permite a importação de resultados de ensaio de túnel de vento, via planilha Excel). 

 

Exemplo de aplicação do vento com 8 casos de carregamento, um a cada 45º 

No Eberick 2022, tivemos melhorias nas capturas (rastrear referência e rastrear extensão). Na linha BIM, foram criadas as Propriedades Personalizadas, permitindo ao usuário a inclusão de informações adicionais na exportação IFC. 

No entanto, a principal novidade foi o novo módulo de Lajes protendidas. Finalmente a AltoQi entregou uma solução própria para projetos com protensão, sistema construtivo bastante difundido no cenário nacional. 

Cabos de protensão nas lajes do Eberick 

A partir da versão 2022, os módulos do Eberick passaram a representar diretamente os “sistemas construtivos” diferentes de concreto armado, ou seja, Pré-moldados, Alvenaria estrutural, Perfis metálicos e o recém-lançado Lajes protendidas. 

Em 2023, a ABNT publicou uma nova revisão da NBR 6118. Como nas vezes anteriores, essa atualização exigiu esforços de adaptação da norma, que fez parte do Eberick 2023. Nessa versão, foram introduzidas melhorias significativas como os pilares nascendo em lajes, a verificação da ductilidade em vigas e aprimoramentos nas inserções de furos. Da linha BIM foi liberado o recurso do perfil de vista 3D, permitindo modificar as cores do Pórtico 3D de acordo com as propriedades IFC dos elementos. 

Nessa versão 2023, liberamos o Novo modelador das lajes, um recurso que superou as antigas limitações do elemento Laje, que passou a permitir contornos internos dentro de uma laje e a delimitação da laje com pilares de grandes dimensões.  

Essa quebra de alguns paradigmas do programa, que gerou um enorme trabalho para a equipe de desenvolvimento, possibilitou uma flexibilidade muito maior na modelagem do pavimento, contribuindo novamente com a ideia original da produtividade e usabilidade do Eberick. 

Antigo modelador das lajes (acima): era necessário utilizar barras rígidas e vigas chatas. Novo modelador das lajes (abaixo): a laje identifica os pilares no contorno e permite contornos internos 

Nessa mesma versão, a AltoQi revisou as aplicações (versões com limitações), adotando novas designações: Professional, Premium, Enterprise e Infinity (modelo vigente). 

 

Vídeo de apresentação do AltoQi Eberick 2023 

Chegamos no Eberick 2024, a última versão lançada do programa. Uma novidade foi a utilização da geometria de vigas e pilares, presentes no modelo IFC importado, para realizar um “lançamento automático” desses elementos no croqui.  

Também nessa versão foi lançado o recurso do Pórtico 3D no segundo monitor, possibilitando ao usuário trabalhar no croqui em um monitor enquanto visualiza a estrutura tridimensionalmente em outro monitor. Como recurso mais técnico, tivemos a Análise sísmica, consideração do efeito do Sismo na estrutura. 

Sismo no Eberick 

No entanto, a grande entrega do Eberick 2024 foi a Viga protendida, que, juntamente com as lajes protendidas, formam o módulo de Concreto protendido. Agora, tanto as lajes quanto as vigas podem possuir cabos de protensão, incluindo toda a análise, dimensionamento e detalhamento para uma solução completa em protensão. 

 

Viga protendida no Pórtico 3D, destaque para os cabos e suas ancoragens 

A história do Eberick é uma jornada incrível! Mas, o que vem por aí? Sempre estamos trabalhando em novidades. Quem esteve na FEICON 2024, ou acompanhou as transmissões pelo canal da AltoQi no YouTube, já sabe que teremos o Núcleo rígido na versão 2025 do Eberick. Mais do que isso, na Atualização 2024-05, como recurso BETA, foi disponibilizado o lançamento e análise do núcleo rígido, com elementos finitos 

 

 

Apresentação do Núcleo Rígido na FEICON 2024 

O núcleo rígido será o maior recurso do Eberick 2025 e, na minha opinião, será o mais completo recurso da história do Eberick. O núcleo rígido é um elemento com formato flexível, composto por várias lâminas retangulares, que será analisado com elementos finitos (algo inédito no Eberick) e conectado aos demais elementos estruturais presentes no projeto.  

Sua principal aplicação está em projetos de grande porte, nos quais o núcleo rígido desempenha um papel fundamental na análise global da estrutura, sendo a principal estrutura de contraventamento do projeto. 

Reflexões sobre o Eberick e meu trabalho 

A primeira reflexão que faço é sobre o quanto a evolução do programa, assim como a história da humanidade, é cíclica. Muitas vezes, pensei estar fazendo algo inédito, apenas para descobrir que algo muito similar já havia sido realizado uma década antes.  

Por exemplo, os próprios ciclos do software, de ampliar e depois reduzir opções comerciais, atendendo a necessidades do mercado de engenharia de cada época, com ciclos de fragmentação (mais versões e mais módulos) e de condensação (simplificação da comercialização). 

Outro aspecto cíclico são as revisões normativas. Tivemos modificações substanciais no programa nos anos em que a NBR 6118 foi revisada, como em 2003, 2014 e 2023. Sempre foi um diferencial do Eberick manter-se atualizado com as normas brasileiras. Além dessa, outras normas também impactam no Eberick, mas nenhuma com o peso da norma brasileira de projeto de estruturas de concreto. 

O Eberick é o software da AltoQi mais antigo em comercialização, e estamos nos aproximando dos 30 anos de desenvolvimento. O programa permaneceu relevante ao longo de todos esses anos e segue sem perspectiva de declínio. A constância dos resultados do Eberick é notável. 

Muitas pessoas me perguntam como é trabalhar no desenvolvimento do Eberick. Depois de superar a dificuldade inicial de explicar o papel dos engenheiros no desenvolvimento de software, eu digo que trabalho no Eberick, todos os dias, durante 15 anos, e foram raríssimos os dias em que eu não aprendi algo novo. O conhecimento técnico envolvido é gigantesco. Não existe uma única pessoa que conheça a maior parte do programa, é apenas por meio da soma dos conhecimentos que atingimos a totalidade do Eberick. 

“Critério de engenharia”, este foi o termo que criamos para situações em que até mesmo a mais alta referência do assunto não tinha todas as respostas para aplicações práticas em projetos reais. Então, formamos comitês técnicos com o corpo de engenheiros da AltoQi, que sempre foi excelente, para tomarmos decisões técnicas sobre como abordar essas situações no programa. 

Uma preocupação da minha parte é a complexidade crescente do Eberick.

A cada versão, com os novos recursos, vamos aumentando o tamanho do software. Isso gera uma necessidade exponencial de compatibilidade entre os elementos. Cada elemento (viga, pilar, viga metálica, viga de fundação, núcleo rígido, muro etc.) deve interagir com todos os demais, em todos os modelos (ELU, fissurado, etapas construtivas etc.).

Esse é um dos grandes desafios, continuar a evoluir o programa sem torná-lo inviável de manter. Para tanto, ao longo dos anos, também melhoramos nosso próprio trabalho, adicionando novas ferramentas, atualizando componentes antigos, evoluindo técnicas de testes de software e de testes automatizados. 

Minha estimativa, com base na quantidade média de pessoas e nos quase 30 anos de desenvolvimento contínuo, é que o Eberick conta, atualmente, com aproximadamente 1 milhão de horas de trabalho, de um grupo extremamente capaz de engenheiros e desenvolvedores. Imaginem o tamanho desse software! 

Quanto falta para terminar o Eberick? 

Ao observar o volume de solicitações de clientes e as necessidades atuais e futuras de mercado, hoje temos mais coisas a fazer do que tínhamos dez anos atrás, e olhem tudo o que foi feito nesse período.

A reflexão importante é não olhar apenas para o futuro, mas também “curtir” o impacto gerado atualmente, para os nossos clientes, para os clientes dos nossos clientes e para a sociedade como um todo. Seguiremos melhorando, é isso que fazemos de melhor. 

Quais são os limites do Eberick? 

Acredito que isso seja bem difícil de responder, mas a minha percepção é de que o Eberick vai longe. A AltoQi seguiu investindo em melhorias tecnológicas para o software, não seria possível evoluir apenas com as ferramentas dos anos 90.

Como empresa de tecnologia, seguimos inovando. Por exemplo, já iniciamos os primeiros passos com uso da inteligência artificial (IA) dentro do Eberick. Na versão 2024 também já temos parte do lançamento automático, a partir do modelo IFC importado. E assim prosseguiremos, mas sem perder a essência do que o Eberick é. 

Diante disso, decidi, conscientemente, dedicar minha vida profissional a este software Eberick, tanto pela representatividade dele na área da engenharia estrutural quanto pelo seu impacto em toda a cadeia da construção nacional e, consequentemente, para toda a sociedade.

Eu tenho muito orgulho do que o Eberick se tornou e da minha parcela de contribuição para ele. Aliar engenharia e tecnologia sempre foi muito instigante para mim. 

A história do Eberick, muitas vezes, se confunde com a própria história da AltoQi. Uma história de sonhos e desafios, de persistência, de criatividade, de conquistas e de pessoas!

Por mais que essa história seja sobre um software de computador, ela também é uma história das pessoas que por aqui passaram, emprestando seu talento em prol desse objetivo. Obrigado a todos que contribuíram com a evolução do Eberick. Hoje eu tenho tanto orgulho do Eberick quanto da própria equipe de desenvolvimento que formamos. 

E qual a sua jornada com o Eberick? Conecte-se comigo na Bilds e compartilhe sua história.