Toda vez que se ouve uma notícia de que na Europa, Estados Unidos ou Japão foram entregues prédios, pontes ou outras obras civis dentro ou até mesmo antes do prazo do planejamento estratégico previsto, nos ocorre a seguinte dúvida: por que não ocorre o mesmo aqui no Brasil? Por que as obras são entregues em um prazo muito superior ao prometido ou planejado?
Será que fora do Brasil há mais tecnologia disponível para a execução de projetos? Provavelmente não, até porque isso não existe mais. As tecnologias para esse tipo de serviço não ficam mais distantes do que o ponto de internet mais próximo.
Defendo que parte deste problema esteja creditado a nossa conduta, forçada pela cultura de busca pela má gestão, pelo “imediatismo” de nossos projetos e pela necessidade de início imediato de execução das obras.
Talvez essa cultura seja reflexo dos anos com altas taxas inflacionárias enfrentado pelas muitas gerações, o que demandava uma rapidez maior do que a realmente necessária para a elaboração do projeto. Tinha-se o pensamento equivocado que o custo das obras aumentava a medida em que o tempo passava, sem contrapartida na valorização dos imóveis.
Além disso, os altíssimos índices de lucratividade obtidos pela construção civil, principalmente nos anos de mercado aquecido, mantiveram os profissionais agindo da mesma forma e usando os mesmos procedimentos. Pouco foi pensado em um planejamento estratégico mais eficiente de projetar, ou pelo menos de gastar mais tempo projetando do que, efetivamente, construindo.
Em países onde os projetos seguem processos mais rígidos, o tempo para o desenvolvimento de um projeto corresponde a dois terços do tempo total da execução do empreendimento, considerando projeto mais obra, enquanto que a sua efetiva execução corresponde ao terço restante do tempo total.
É fato que no Brasil esses tempos são invertidos, ou seja, passamos apenas um terço do tempo planejando e dois terços no canteiros de obras, o que resulta em improvisos, custos não previstos e retrabalho para os projetistas.
A primeira vista, em ambas as situações tem-se o mesmo tempo de execução de um empreendimento, pois nas duas alternativas estes teriam um mesmo tempo executivo global. No entanto, isso não ocorre em função de diversas razões.
A mais evidente trata do seguinte: um empreendimento com um planejamento estratégico mais idealizado e melhor projetado ao ser executado, tende a ter um percentual muito maior de execuções corretas do que improvisações e adaptações.
A segunda razão versa sobre a quantidade de informações geradas decorrentes do tempo dedicados ao projeto. Informações bem coordenadas e corretamente administradas, facilmente, incorrerão em uma melhor assertividade e organização do planejamento estratégico.
Essa assertividade impacta desde aluguéis de equipamentos até contratos dos prestadores de serviços bem dimensionados, passando pela descrição e especificações correta dos insumos.
Na hipótese de investir terços do tempo de todo o ciclo de construção de um empreendimento em execução, deve-se considerar custos fixos decorrentes do canteiro de obras, como aluguéis, impostos, taxas, tributos e tarifas públicas, salários que não dependam de produção como o dos mestres-de-obras, pessoal administrativo, vigilância remota, vigilantes presenciais, dentre outros.
Já ao preferir investir dois terços do tempo total em projetos, tende a ocorrer uma aproximação do planejado e do orçado com a realidade executada, implicando em um custos previstos e menor prazo de execução, o que agrega maior qualidade final a obra.
Em síntese, já é tempo de perceber que é imensuravelmente vantajoso investir um tempo maior na fase de planejamento estratégico e projetos, pois uma obra bem planejada agrega valor com o tempo.
No próximo post vou falar mais sobre os custos de improvisação na execução de obras. Até lá.