Olá, aqui quem escreve é Leovegildo Douglas. Confesso que já ouvi todas as variações possíveis de Leovegildo e tudo bem, mas podem chamar de Léo que é mais fácil. Sou engenheiro civil pela Universidade Federal de Campina Grande, interior da Paraíba.
Fiz mestrado e doutorado em Estruturas na Universidade Federal da Paraíba, já na capital João Pessoa. São 10 anos de atuação como engenheiro civil e desde o começo trabalhei com a área de estruturas. Atualmente, além de projetista, sou professor da Universidade Federal de Campina Grande lecionando justamente as disciplinas de Concreto Armado.
Como bom paraibano, nascido, criado e formado no interior, como não gostar de festa junina? Como não se encantar com os festejos e tudo que cerca essa época tão especial do ano?
Morando e estudando na cidade de Campina Grande pude conhecer o Parque do Povo com sua estrutura gigantesca que abriga aquele é chamado de “O Maior São João do Mundo”. Até então um espaço para 57 mil pessoas por noite num grande festival que dura 30 dias durante todo o mês de junho.
A cidade fica colorida, o forró ecoa em cada esquina da cidade decorada e iluminada. São milhões de turistas. É impossível não dar um “pulinho” no Parque do Povo para conhecer a estrutura (lógico que eu ficava super curioso com a estrutura montada para aquele megaevento).
São João se relaciona diretamente com o cerne da cultura nordestina e brasileira. Está presente na decoração da cidade, na música típica, nas roupas, na culinária... Enfim, o mês de junho em Campina Grande é como ser personagem de uma obra de Ariano Suassuna, de um cordel de Patativa do Assaré ou mesmo se encontrar com Rachel de Queiroz. Afinal, em cada esquina tem Ferreira Gullar nos lembrando que “a arte existe porque a vida não basta”.
Imagem: Matheus Lino/UOL.
Bom, mas voltemos ao papo de engenharia. Falemos dos números d’O Maior São João do Mundo. A edição de 2023 recebeu aproximadamente 2,5 milhões de pessoas durante os 30 dias festas e movimentou cerca de R$ 500 milhões na economia local. 340 artistas passaram pelo Parque do Povo e mais de 5000 empregos foram gerados direta ou indiretamente na cidade em virtude do evento.
Se você discorda do título de “O Maior São João do Mundo” provavelmente você é pernambucano e vai dizer que Caruaru é maior, mas essa “competição de vizinhos” é papo para resolver convidando os amigos a visitarem ambas a cidades nessa época. Bora?
Ah, e aquilo que já era grande, vai ficando ainda maior....
A ampliação da estrutura física do Parque do Povo é uma demanda antiga, todavia, por vezes vista como inviável na cidade de Campina Grande. Nas últimas edições d’O Maior São João do Mundo, em muitos dias o espaço precisou ter seus portões fechados em virtude da lotação máxima atingida de 57.278 mil pessoas.
O Parque do Povo fica numa área central da cidade de Campina Grande, densamente urbanizada e o evento tem impacto relevante também na mobilidade urbana além da poluição sonora e visual demandando imenso trabalho de planejamento para readequação de tráfego, saídas de segurança e todas as demais variáveis que envolvem um megaevento.
Em um primeiro momento, não se vislumbra um espaço de ampliação.
Ao lado do Parque do Povo, separado por uma antiga barragem na qual por cima passa a Rua Lino Gomes, existe o Parque Evaldo Cruz, popularmente conhecimento como “Açude Novo”, uma vez que de fato já foi um açude hoje drenado.
Este é um espaço público amplo e arborizado que conecta pontos importantes da cidade com o próprio Parque do Povo, terminal de integração do transporte público municipal, hospitais e que intercepta a maior avenida da cidade, a Av. Floriano Peixoto. Então, por que não unir ambos os espaços?
Assim, surge o trabalho do projeto que, legalmente é designado como “Reforma e Requalificação do Parque Evaldo Cruz” e carinhosamente tratado como “Ampliação do Parque do Povo”.
O projeto foi desenvolvido pela ATECEL, uma associação técnica sem fins lucrativos fundada por professores da antiga Escola Politécnica que hoje é Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
No projeto estiveram envolvidos professores dos cursos de engenharia, servidores da prefeitura universitária e engenheiros atuantes na própria ATECEL, além do corpo técnico da Secretaria de Planejamento do município de Campina Grande.
Foram 9 meses dedicados ao trabalho de desenvolvimento dos projetos executivos. A Universidade atuando junto ao poder público municipal numa importante transformação da área central da cidade. E eu estava no lugar certo na hora certo. Como professor da UFCG pude integrar o time de projetistas.
A ideia passa por uma total reformação do Parque, recondicionamento dos espaços públicos e conexão direta entre os dois ambientes. A passagem da barragem do Açude Novo foi removida e deu lugar a um viaduto, criando uma conexão de pedestres por sob a Rua Lino Gomes. Agora, o Parque Evaldo Cruz é mais um espaço onde toda a cenografia, os palcos e o forró d’O Maior São João do Mundo se espalha.
O projeto envolve, em sua totalidade a intervenção direta em mais de 100 mil m² e inclui:
A obra foi dividida em duas etapas e a primeira delas já foi entregue para a edição 2024 d’O Maior São João do Mundo. Nesta etapa foi entregue o viaduto de conexão entre o Parque do Povo e o Parque Evaldo Cruz, revitalização do obelisco e fonte, pátio de eventos e parte da iluminação e paisagismo.
Com isso, o novo São João de Campina Grande amplia sua capacidade para 73.500 pessoas simultaneamente, a área do palco principal passa a ter uma capacidade de 40.000 pessoas. A cidade espera que circulem mais de 3,5 milhões de pessoas durante o mês de junho e que a festa seja responsável pela injeção de mais de R$ 500 milhões na economia local.
No vídeo abaixo é possível ver como ficou a primeira etapa do projeto.
É um imenso orgulho fazer parte da equipe e muito gratificante ver tudo tomando forma e se tornando realidade. Fui responsável pelo projeto estrutural de alguns elementos inclusos na requalificação do Parque Evaldo Cruz e utilizei o AltoQi Eberick para na etapa de projetos.
Projetei o pátio de eventos, a praça de alimentação, a quadra poliesportiva, pontos de ônibus, o estacionamento subsolo e o centro cultural.
Para o estacionamento subsolo e o centro cultural, foi essencial o recurso de lajes protendidas com cálculos automáticos do Eberick. Já para o pátio de eventos, ponto de ônibus e praça de alimentação utilizei também o recurso de estruturas metálicas do software.
Para a edição 2024 já pude caminhar no pátio de eventos e passar por sob o viaduto que conecta os parques e confesso já estar muito ansioso para ver, ao final da segunda etapa da obra, tudo mais que teve nossa contribuição.
O projeto do estacionamento subsolo e centro cultural, inclusive, me proporcionou a incrível experiência de representar o Brasil na seção Young Practicing Engineer dentro da convenção do American Concrete Institute. Em março de 2024 pude estar em New Orleans (LA) apresentando o projeto e circulando num dos maiores eventos sobre concreto e engenharia estrutural do mundo.
Logo logo vamos falar um pouco mais sobre os aspectos técnicos desse projeto especificamente. No próximo artigo conto como o AltoQi Eberick foi utilizado para a criação das infraestruturas deste projeto.
Com isso, acompanhe as novidades no Blog AltoQi e me siga no LinkedIn e na Bilds. Prometo que em breve falaremos mais sobre esses projetos aqui.
Ah, quer saber mais sobre O Maior São João do Mundo, confere o site oficial do evento.