Com a ampla concorrência focada em projetos estruturais e de infraestrutura, o caminho dos projetos complementares prediais e residenciais surge como um grande potencial na área de construção. No entanto, o profissional que optar por esse nicho terá de enfrentar dois grandes obstáculos:
Antes de entrarmos nessas duas questões e discuti-las, vale ressaltar que todo o cenário de obrigatoriedade e exigências na construção civil é uma realidade muito recente na história brasileira. Apesar dos decretos n° 3.198 de 1863, n° 3001 de 1880 e n° 23.569 de 1933, que tentavam regulamentar e estabelecer a profissão de engenharia. O reconhecimento e regulamentação da profissão de engenheiro e arquiteto só foram realizadas em 1966, sancionadas através da lei n° 5.194 que completará, na véspera de natal do ano de 2016, apenas 50 anos.
Somente a partir dessa data tornou-se obrigatória a presença de um engenheiro ou arquiteto na construção civil. Houve ainda atualizações nos anos de 2007, 2010 e, mais recentemente, em 2014 — nesta última com uma nova norma que torna obrigatória a participação de engenheiro ou arquiteto também em reformas. Portanto, o setor da construção civil e suas leis ainda estão em construção no nosso país e são as nossas experiências que criam as necessidades.
Em algumas cidades, os projetos hidrossanitários ainda não são obrigatórios para habitações unifamiliares, residências e salas comerciais de pequeno porte, o que acaba gerando o primeiro desafio do profissional que quer trabalhar com esse nicho:
Diferente do projeto arquitetônico, nenhum outro projeto é obrigatório em residência unifamiliares de pequeno porte. Nem mesmo o estrutural entra como exigência para aprovar a construção. No entanto, há uma cultura em se planejar os esforços e resistências das paredes, vigas e lajes e também de se prever, mesmo que basicamente, os condutos e fiações. Dentre outros, os principais motivos que levam o contratante a fazer o projeto são: o medo da casa ou prédio ruir (projeto estrutural) e o medo do empreendimento pegar fogo (projeto elétrico).
Percebe-se então a falta de importância dada pelo contratante — e em muitas vezes também do arquiteto ou engenheiro — para os projetos hidrossanitários, que acabam sendo feitos somente na hora da execução, diretamente por um profissional que executa da mesma forma que aprendeu para todas as construções, sem levar nenhum outro fator em consideração. Além da alta probabilidade de insumos exagerados e desperdício de material, o contratante fica sujeito a outros incômodos ligados à falta de conhecimento, como ligação da rede sanitária diretamente na rede pluvial, falta de um sistema de tratamento individual de esgoto, improvisação na escolha de conectores e tubos, ineficiência de pressão de água e retorno de gases fétidos pela tubulação.
Ainda nesse sentido, segundo estudo realizado pela Universidade de São Paulo, a maior dos problemas e patologias pós obra é ligado aos projetos hidrossanitários —ou à falta dele. Essa também é a principal causa que levam a reformas severas em residências, em sua maioria, ligadas diretamente ao banheiro que raramente é projetado adequadamente.
Portanto, cabe ao projetista se conscientizar e mostrar a importância de projetos hidrossanitários para a residência. Além de evitar problemas e reformas em um futuro próximo, é muito vantajoso pensando na relação custo x benefício. Investir em projetos para evitar gastos futuros é sempre a melhor solução.
Vencida a primeira objeção, o projetista tende a enfrentar outro argumento.O próprio executor da obra – que em muitos casos nem chega a ser profissional – alega que faz também os projetos hidrossanitários por um valor muito mais acessível.
Nessa hora, pesa a favor do projetista todos os anos de estudos investidos na faculdade ou curso técnico. Ter o conhecimento necessário do porquê, além do “como fazer aquele projeto” é o maior diferencial na escolha de um profissional. Mostre para o contratante que, da mesma forma que ele contratou alguém para pensar sobre o projeto arquitetônico, é realmente necessário, vantajoso e mais econômico planejar também a estrutura hidráulica. Vale nessa hora citar as consequências por não contratar um projetista, citadas no item acima.
Reforce também que todo planejamento reduz o desperdício de materiais, evita improvisação na execução, considera os demais projetos para que não tenha conflito, evita reformas desnecessárias de correção e principalmente, pensar no empreendimento a longo prazo. É muito comum nos empreendimentos em que não há planejamento hidráulico o desconforto com vazamentos, furo de tubos e conexões por furadeira, retorno de gases fétidos, baixa pressão de água e flutuação de temperatura.
Esses e outros motivos criam a necessidade de eficientes projetos hidrossanitários prediais e residenciais. A falta de obrigatoriedade deixam um horizonte com enorme potencial a ser trilhado pelo projetista. A concorrência, nesse setor é mais amena. Todas essas variáveis, tornam os projetos hidrossanitários de pequeno porte uma vertente carente e de alta possibilidade de retorno. Vale apostar.
Para munir ainda mais o projetista, falaremos no próximo artigo sobre cinco motivos que tornam os projetos hidrossanitários indispensáveis. Até lá!