Em nosso último post mostramos descuidos comuns de um projetista na elaboração de um projeto estrutural. Falamos também que, para se diferenciar como projetista, é necessário pensar além do cálculo estrutural. Hoje continuaremos nesse sentido, dando dicas para que seu projeto seja reconhecido pela qualidade.
Em nosso último post, questionamos se você, como projetista, costuma perguntar para seu cliente como ele gostaria que fosse solucionada a obra.Bem, embora não seja recorrente, é de extrema importância que você converse com seu contratante antes de iniciar seu projeto sobre as expectativas dele quanto a solução final da estrutura. Assim você consegue identificar quais soluções podem ser adotadas no projeto, excluindo as possíveis soluções que ele não quer em sua edificação. Essa ação evita a ocorrência de mudanças no projeto quando o mesmo estiver em um estágio mais avançado, o que toma mais tempo do projetista.
Como dica, crie um documento em forma de questionário, que você preencha durante uma entrevista com o cliente e que seja posteriormente assinada pelo mesmo. Você pode inserir nesse questionário questões sobre opção de preparo do concreto, usinado ou in loco, tipos de lajes a serem usados, dimensões das vigas, opções de permuta da área construída do projeto por material utilizado na obra, limite de interferência da estrutura na arquitetura e ritmo de execução da estrutura. É fundamental que o projetista explique ao cliente os benefícios e desvantagens de cada escolha e que, embora seja fundamental, não pode ser definitiva, pois ainda dependem da concepção estrutural a ser adotada.
Embora a prática mais recorrente seja o projetista só receber o projeto arquitetônico que já foi aprovado na prefeitura, também conhecido como projeto executivo, essa não é a melhor forma de trabalho. Quando o projetista recebe um projeto arquitetônico ainda na fase de estudo preliminar fica mais fácil propor pequenos ajustes na arquitetura, que podem fazer grande diferença para a solução estrutural. Nessa fase, é possível prever também elementos como vãos muito grandes, trechos de desalinhamento, posições que precisariam de vigas de transição por não possuírem apoio e outros elementos que o arquiteto pode resolver de maneira simples, sem alterar a função da edificação. Por via de regra, quanto mais alinhadas e ajustadas a arquitetura e estrutura, melhor será a obra. Convença seu contratante a repassar o projeto arquitetônico o quanto antes.
Com infinitas possibilidades de chegar em uma solução estrutural, a única forma de realizar um trabalho organizado e eficiente. Realize uma análise preliminar da arquitetura, identificando qual o perfil do projeto, em termos de características socioeconômicas, defina qual o principal desafio do projeto, para que você mantenha nesse sentido o seu foco. Identifique também os pontos críticos para a concepção estrutural. Tendo feito isso, você pode começar posicionando seu pilares, identificando os pontos com prumadas contínuas, sem vigas de transição. Perceba os grupos de pilares que estão no mesmo alinhamento e que poderão formar pórticos. Outra dica é partir de soluções que tenham mais pilares e depois ir testando outras soluções com vãos maiores. Lembre-se que você deverá testar várias soluções, e não apenas uma.
A norma 15575 de desempenho prevê que deve-se minimizar o risco de colapso estrutural, evitando ocorra desmoronamento antes da edificação ser evacuada. Em 2014 na França, uma explosão de um botijão de gás em um apartamento ocasionou o desmoronamento de toda edificação, o que trouxe mais rigidez nas normas de segurança estrutural. Para isso, é fundamental que sejam criados vínculos estruturais e outras formas de execução, para que, no caso de desmoronamento de certos elementos, como paredes ou pilares, não seja comprometido o edifício como um todo. A NBR 15200 para estruturas de concreto especifica dados e formas de fazer o projeto sem que haja colapso.
A norma 6118:2014 instituiu a obrigatoriedade de avaliação da conformidade do projeto, ou avaliação técnica. No entanto, os parâmetros para essa atividade não foram estabelecidos. Para amenizar essa dúvida, a ABECE- Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural- elaborou o documento “Recomendação ABECE 002:2015 – Avaliação técnica de projetos de estruturas de concreto” definindo escopo, tipos de avaliação e qualificação do profissional que poderá avaliar a edificação. Mas a questão é, para que esperar essa avaliação se você mesmo pode encontrar os possíveis erros em seu projeto? Por isso, como dica, crie um check list com itens a verificar em seu projeto, como cobrimento das armadura, revestimentos adotados, imperfeições geométricas, coeficientes de recalque e limite de flechas em vigas e lajes. Lembre-se que o ideal é que esse check list seja realizado por outro profissional. Sugira a um colega que faça seu check list de verificação em troca de você fazer o dele quando houver outro projeto.
A qualidade de um projeto está diretamente relacionada a dois itens, sendo o primeiro, a quantidade de informações que você consegue reunir de antemão, que facilitam a tomada de decisões por uma determinada solução estrutural. Uma das formas mais eficientes de realizar isso é conversar abertamente com seu cliente ou contratante sobre as expectativas, restrições e possibilidades.
O segundo item fundamental para a qualidade de um projeto é a qualificação de seu projetista. As normas que regem a construção civil e a própria regulamentação da profissão ainda são relativamente novas e estão em constante aperfeiçoamento. Com o projetista, essa situação não pode ser diferente. É vantajoso possuir experiência, mas é ainda mais fundamental estar atualizado com as tendências e novas possibilidades de soluções estruturais.
Em nosso próximo artigo, falaremos sobre como se manter atualizado em projetos estruturais.