Muito tradicional, o método de construir com alvenaria estrutural tem mais de 700 anos. Nasceu de forma empírica e mantém até hoje algumas de suas obras históricas, como a basílica de Santo Antônio de Pádua, na Itália, que foi construída na primeira metade do século 14.
No entanto, entre tantas obras, talvez a que mais cause impacto na forma com que se conhecia a alvenaria estrutural é o MonoAdnok Building, um edifício de 16 pavimentos de altura, construído em 1894, na cidade estadunidense de Chicago. Considerado uma marco da construção civil na época, as paredes do andar térreo deste edifício possuem 1,80 m de espessura, representando um elevado consumo de materiais.
Posteriormente, houve muitos estudos e avanços neste método construtivo, o que nos permite hoje projetar e executar obras com maior assertividade e eficiência. No entanto, a utilização do concreto armado na construção civil, contemporâneo ao citado edifício, tornou obsoleta aquela forma de construir alvenaria estrutural, principalmente por ter se apresentado, à época, mais viável economicamente.
Esse advento, provocou o declínio da utilização da alvenaria estrutural na construção civil, e consequentemente um inchaço no número de obras que utilizam o concreto armado como solução estrutural. Hoje o concreto armado representa cerca de 80% das construções do Brasil, o que levou os projetistas a considerarem o concreto armado como primeiro – e muitas vezes o único – método eficiente de construção.
Considerando esse cenário, saber projetar em alvenaria estrutural mais do que uma habilidade a mais, tornou-se um diferencial para o profissional projetista. Mais asseada e organizada se comparadas a canteiros de obras de concreto armado, a construção em alvenaria estrutural vem ganhando espaço no mercado e teve aumento significativo na última década, principalmente analisando o fato que construções de edifícios multifamiliares populares, como as do programa minha casa, minha vida do governo federal utilizam de forma maciça a alvenaria estrutural como método construtivo.
Portanto, analisando mesmo que de forma simples o mercado, há uma demanda por profissionais que saibam projetar em alvenaria estrutural, tanto na área de execução quanto no segmento de projetos e os profissionais que se prepararem podem colher bons frutos.
Assim como qualquer outro processo construtivo, a preparação é essencial tanto para o projeto, quanto para o projetista. Para saber o que um projetista precisa ter para começar a trabalhar, leia nosso artigo pré-requisitos para atuar com projetos estruturais, escrito pelo Engenheiro Civil e Mestre em Estruturas Rodrigo Koerich.
Se você possui os pré-requisitos para ser ou já é um projetista, antes de iniciar um projeto de alvenaria estrutural ou de qualquer outra solução construtiva, é fundamental que você tenha informações prévias da edificação. Conhecer as características do terreno em que será efetuada a construção, considerar as estruturas de obras vizinhas e preferências do seu cliente quanto a construção são diferenciais para conceber seu projeto e que infelizmente, não são comumente consideradas. Você pode ler mais sobre as informações prévias de um projeto clicando aqui.
Importante frisar que quem já está habituado a realizar projetos de concreto armado pode considerar, de forma desacertada, coeficiente e diretrizes das normas 6118 ou 6120, sem verificar no entanto, prescrições normativas específicas que regem a alvenaria estrutural como as NBR’s 15812-1 e 15812-2, 15961-1 e 15961-2, 15270 e 6136, e essa mudança deve ser o primeiro obstáculo a ser superado. Não tanto pela necessidade de atender os requisitos normativos mas sim por ter que sair da zona de conforto da análise estrutural baseada em distribuir cargas em pórticos compostos de vigas e pilares e ter que passar a estudar outras soluções possíveis. Essa aliás, é uma diferença que pode causar um impacto em quem já realiza projetos em concreto armado – ausência de vigas e pilares como forma de sustentação. Como princípio básico, a alvenaria estrutural se define por edificações que utilizam as próprias paredes como elementos estruturais que sustentam a edificação.
Conhecer as normas regentes é o princípio básico para começar a projetar, mas existem formas alternativas de estudá-las. Você pode optar por instruir-se da forma mais tradicional, através de livros ou consulta direta ao site da ABNT. Já um caminho alternativo é realizar cursos rápidos de atualização, há bastante opção no mercado.
O fato é que uma alvenaria estrutural eficiente está sustentada por três conceitos: conhecimento estrutural, processo adequado de construção e materiais de qualidade. Sobre os materiais é preciso destacar a constante evolução de qualidade e variedade no mercado nacional. Hoje pode-se encontrar, praticamente em todo território brasileiro, materiais apropriados para o uso em alvenaria estrutural.
Dentre os principais materiais utilizados em alvenaria estrutural, destacam-se os blocos de concreto e cerâmico, além das argamassas de assentamento e graute. Importante reiterar que a escolha dos materiais unido a técnicas de aplicação adequadas influenciam diretamente no desempenho da edificação, uma escolha que considere mais a economia em vez de qualidade certamente levará a problemas como assentamentos fora do prumo, desníveis e alinhamentos indesejados, além do risco de não conferirem a resistência especificada à parede. A presença de patologias na obra também está diretamente ligada a qualidade dos insumos.
Como dica, apoie-se em três fundamentos básicos para sucesso em qualquer área: planejamento, estudo e disciplina. Prepare-se reunindo as informações prévias necessárias para seu projeto, estude as normativas e diretrizes regentes de alvenaria e mantenha a disciplina para gerar uma rotina de trabalho.
Em nosso próximo artigo, falaremos sobre alguns dos desafios enfrentados em um projeto de alvenaria estrutural.