Na prática corrente de construção de edifícios no Brasil, ainda é muito usual que os projetos sejam desenvolvidos em épocas diferentes. Por exemplo, quando o projeto estrutural começa, normalmente o projeto arquitetônico já está em aprovação na prefeitura e os projetos de instalações hidráulicas e elétricas nem tiveram seus projetistas contratados. Hoje, quando se entende a importância do BIM no desenvolvimento dos projetos, não se imagina essa forma de trabalho mas, infelizmente, seu uso ainda não é um padrão na maior parte das construtoras.
Por conta disso, o processo de compatibilização dos projetos que foram desenvolvidos de forma não sincronizada, se torna um pesadelo para os engenheiros de obra e construtoras, pois frequentemente chegam na obra atualizações (revisões) de projetos que foram modificados por conta de requisitos vindo de outras disciplinas.
Além do (re)trabalho que essas modificações constantes geram aos projetistas, sobra para o engenheiro da obra uma enorme confusão e dificuldade para gerenciar todas essas atualizações, a fim de que as versões novas cheguem nas equipes de execução e ninguém execute versões desatualizadas dos projetos. Mas como se sabe, isso normalmente não ocorre, e frequentemente são executados projetos nas suas versões desatualizadas.
Ainda pode ocorrer o fato de que são geradas versões de projetos que resolvem um problema, mas não são compatíveis com outros sistemas. Por exemplo, o projetista de hidráulica faz o posicionamento das colunas e desvios horizontais de acordo com o arquitetônico, mas não aprova com o estrutural e manda para a obra. Se o projeto estrutural tem impedimentos técnicos para atender a essa solução, o projeto hidráulico precisa ser alterado novamente, gerando mais uma revisão no mesmo ponto, o que causa enorme confusão na obra.
A principal causa desse problema, além do desenvolvimento dos projetos desalinhados no tempo, é a falta de comunicação entre os projetistas. Ou seja, se o arquiteto modifica o projeto, precisa avisar os demais projetistas, e estes ao atualizar seus projetos com as modificações advindas do primeiro, precisam avisar novamente aos demais.
Via de regra, isso não ocorre. Por que? Porque o gerente de projetos ou a construtora não utiliza uma ferramenta para gestão de projetos que faça a organização dos arquivos do projeto, o compartilhamento de cada uma das atualizações com os demais envolvidos e a rastreabilidade de mudanças, informando a todos o que mudou e em que parte da edificação.
Falta também um processo claro para realizar o controle de qualidade dos desenhos e projetos, o que inclui um checklist de atividades executadas e sua aprovação em todas as disciplinas.
Você poderia se perguntar então: se esse problema é tão importante e recorrente nas construtoras do Brasil e há ferramentas para isso, porque não a adotam?
A resposta disso talvez venha de uma certa “cultura” que muitas construtoras mantêm, se utilizando de práticas antigas em lugar de aplicar novas tecnologias disponíveis no mercado, aliado ao fato de que pode faltar uma pessoa que realmente assuma esse papel e implemente essa tecnologia em prol da empresa.
É nesse ponto que defendo que o problema da construtora pode representar uma oportunidade ao estagiário. Mais jovem e mais aberto a novas tecnologias, o estagiário pode aproveitar essa situação de risco para a empresa e ser o protagonista dessa evolução tecnológica.
Para que isso aconteça, o primeiro passo é estar atento ao problema, entendendo que esse cenário que descrevi pode estar acontecendo na empresa que está estagiando e procurar identificar as situações em que isso já ocorreu, apontar as consequências de tal erro, a fim de ter argumentos bem justificados para a implantação de uma solução mais efetiva para o problema.
O segundo passo é, obviamente, conhecer uma ferramenta para gestão de projetos de forma eficiente e a mais integrada possível aos programas utilizados pelos projetistas, pois serão eles que devem ter a responsabilidade de atualizar os projetos através dela. Se isso não acontece, acaba que um ou mais projetistas envia os projetos pelos meios convencionais – como e-mail – e a comunicação se perde novamente.
Portanto, uma oportunidade para o estagiário diferenciar-se no mercado e ganhar valor para a construtora é conhecer e especializar-se nessas ferramentas para gestão de projetos, pois uma vez que esteja implantado o processo, a construtora vai perceber a melhoria e, como resultado, o estagiário ganha importância e oportunidades na sua carreira na construtora.